São Paulo, segunda-feira, 08 de outubro de 2001

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A RETALIAÇÃO DOS EUA

Depois do 11 de setembro, um contra-ataque militar norte-americano se tornou hipótese praticamente certa. Mais. Uma resposta à odiosa façanha que ceifou 6.000 vítimas inocentes em poucos minutos era necessária para deixar claro que o terrorismo não é tolerado sob aspecto nenhum. Primeiro ato expressivo de uma ofensiva multifacetada, o bombardeio ao Afeganistão ainda necessita, porém, de legitimação.
Vinte e seis dias se passaram desde que o World Trade Center e o Pentágono foram alvejados por ataques suicidas. E o fato de Washington ter evitado uma reação militar intempestiva foi um sinal positivo. Em vez de dar ouvidos a assessores que pregavam retaliação imediata, o governo George W. Bush optou inteligentemente por uma enorme empreitada diplomática. O resultado foi a tessitura de uma rede de apoio internacional sem precedentes.
O passar do tempo e a costura de alianças foram fundamentais para que ganhassem mais elementos as investigações sobre os perpetradores dos atentados, para que diversos serviços de inteligência trocassem informações e para que fosse levada em conta a opinião pública nos países desenvolvidos -reticente em relação a uma grande campanha militar, à exceção da dos EUA.
Tudo isso contribuiu para impor certas condições à ação militar norte-americana. Para legitimar-se na teia de apoio internacional que conquistou, Washington deveria convencer seus aliados de que combatia grupos terroristas implicados nos atentados, empreender outras ações de cunho político no Oriente Médio e na Ásia e evitar mais um banho de sangue na população civil.
A primeira condição os EUA satisfizeram de modo oblíquo. Mostraram as supostas provas que implicam a Al Qaeda apenas a autoridades de países e organizações aliados. Em relação ao segundo ponto, a política externa americana sofreu notória inflexão. São exemplos a atuação mais efetiva no apaziguamento do conflito israelo-palestino e o envio de ajuda humanitária aos refugiados afegãos.
É o terceiro elemento, o da necessidade de evitar a perda de vidas inocentes, que vai ter de passar pelo crivo internacional. É cedo para saber se apenas alvos de milicianos foram atingidos. E as características desse conflito tornam a obtenção de informações isentas ao menos tão dificultosa quanto foi na Guerra do Golfo.
É hora, portanto, de a Organização das Nações Unidas tomar papel ativo no episódio. Ela é a instância multilateral por excelência, capaz de conferir o maior grau de legitimidade às ações de EUA e aliados e de condenar atos eventualmente abusivos.


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