São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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CÂMBIO IMPREVISÍVEL

À primeira vista, a confirmação do segundo turno entre o candidato petista e o do governo não foi suficiente para reverter as expectativas pessimistas nos mercados financeiros. O real se desvalorizou, a Bovespa caiu, o risco-país permaneceu acima dos 2.000 pontos e o principal título da dívida externa brasileira (C-Bond) foi negociado com forte deságio nos mercados internacionais, a 52% do valor de face.
No curto prazo, é impossível prever o comportamento dos indicadores financeiros. Mas parece provável que a instabilidade e a volatilidade dos preços dos principais ativos devem prevalecer ao longo da segunda fase da campanha eleitoral.
Nos nove primeiros meses do ano, o volume de recursos captado pelo governo e pelas corporações brasileiras foi de US$ 10,7 bilhões, uma queda de 54% com relação ao mesmo período do ano passado. No último trimestre deste ano, o mercado internacional deverá continuar retraído, diante da elevada aversão ao risco dos investidores. Devem vencer US$ 8,1 bilhões em títulos de dívida externa e de dívida interna indexada à variação cambial. A rolagem parcial desses títulos deve continuar pressionando a cotação do dólar, mesmo se forem obtidos mais US$ 3 bilhões na balança comercial e US$ 2,7 bilhões em investimento direto, como projetado pelo Banco Central.
A instabilidade financeira e cambial demonstrou que o país precisa realizar uma drástica reversão da dependência de capitais externos. Em 2003, ainda serão necessários US$ 40,8 bilhões para fechar as contas externas, diante de um déficit em transações correntes de US$ 12,8 bilhões e amortizações de dívidas de US$ 28 bilhões. A redução da vulnerabilidade externa recoloca a discussão das fontes alternativas de financiamento do desenvolvimento, vale dizer, aperfeiçoar o sistema financeiro doméstico, ampliar as exportações e substituir importações. Esse deveria ser um dos temas relevantes nos debates dos dois candidatos.


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