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VOTO DE PROTESTO
Uma das muitas surpresas deste pleito foi a expressiva votação obtida no Estado de São Paulo
por Enéas Ferreira Carneiro, candidato a deputado federal pelo Prona.
Com pouco mais de 1,5 milhão de
sufrágios, obteve 8% dos votos válidos para deputado federal, quase o
triplo da contagem alcançada pelo
segundo colocado, José Dirceu, o
presidente nacional do PT.
A primeira constatação é a de que
Enéas aglutina votos de protesto.
Boa parte de seus eleitores está mais
interessada em sua figura, folclórica
e histriônica, do que nas propostas
propriamente ditas, que existem e
são ultraconservadoras. Além do discurso da autoridade e da competência, Enéas defende a construção da
bomba atômica, entre outras teses de
extremismo nacionalista.
Um outro problema colocado por
sua eleição diz respeito ao sistema
proporcional para a escolha de deputados. Enéas recebeu tantos votos
que dará ao seu Prona, o Partido da
Reedificação da Ordem Nacional,
uma bancada de seis deputados, de
acordo com as projeções. Quatro deles irão à capital federal representar
os paulistas tendo recebido menos
de mil votos cada um.
Em que pesem todos esses problemas, é da essência da democracia dar
abrigo a agremiações como o Prona,
que existem em muitos países democráticos, experimentando graus variáveis de sucesso. No fundo, as teses
de Enéas não estão tão distantes das
da Frente Nacional, de Jean-Marie Le
Pen, na França, ou das de outros partidos da extrema direita européia.
Esses grupos, apesar de por vezes
flertarem com idéias contrárias à democracia, devem, dentro de certos limites, ser tolerados pelo sistema democrático, que, ao dar vazão e representação a teses consideradas esdrúxulas, canaliza as energias dos grupos que as defendem para a militância partidária, evitando assim que se
lancem em aventuras.
Uma das maiores virtudes da democracia é a sua capacidade de tolerar a diferença.
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