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FILA DE TRANSPLANTES
Transplantes de órgãos. Esse
tipo de operação, que até poucas décadas atrás era uma tentativa
desesperada de prolongar a vida, tornou-se, graças a avanços no campo
da imunossupressão, uma alternativa viável de tratamento para muitas
moléstias. O empecilho a uma maior
utilização dos transplantes é a oferta
limitada de órgãos. A mortalidade
nas filas é alta. No caso dos transplantes hepáticos em São Paulo, é de
25,7%. Esse número torna-se especialmente cruel quando comparado
à cifra norte-americana, que é de 8%.
Muitos fenômenos explicam a discrepância, desde a qualidade do
atendimento médico até a forma de
organizar a fila. No Brasil, fígados
são alocados quase exclusivamente
pelo critério cronológico. Exceto nos
casos de hepatite fulminante e de retransplante, quem está há mais tempo na fila recebe o órgão antes.
O critério é democrático, mas não
o mais eficiente. Alguns especialistas
defendem a adoção do sistema Meld,
um modelo matemático que, utilizando-se de resultados de certos exames laboratoriais, atribui uma pontuação para cada paciente. Pessoas
em situação mais grave são atendidas antes. O Meld só foi adotado nos
EUA no final de 2001, mas o país já
organizava a fila segundo critérios
médicos, e não apenas cronológico.
Uma fila mais organizada beneficia
a todos. Só entrariam na lista de espera pessoas que já precisam do órgão, evitando que pacientes nos primeiros estágios de doença hepática
se inscrevam na fila para "reservar"
um lugar. A analogia que vale é a do
trânsito. Há muitos carros circulando por uma pista que se estreita. Se o
tráfico na ponta flui mais, o congestionamento tende a ser menor.
Os que se opõem à adoção do Meld
lembram o histórico brasileiro de favorecimento dos mais ricos. Um
princípio básico da democracia é o
que assegura que ricos e pobres devam ter, pelo menos na área pública,
igualdade de acesso. Mas critérios
médicos não deveriam ser menosprezados sob o argumento de que
possibilitam a fraude. A utilização
deve ser a mais racional e justa possível, e as fraudes, quando constatadas, devem ser punidas.
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