São Paulo, terça-feira, 08 de outubro de 2002

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FILA DE TRANSPLANTES

Transplantes de órgãos. Esse tipo de operação, que até poucas décadas atrás era uma tentativa desesperada de prolongar a vida, tornou-se, graças a avanços no campo da imunossupressão, uma alternativa viável de tratamento para muitas moléstias. O empecilho a uma maior utilização dos transplantes é a oferta limitada de órgãos. A mortalidade nas filas é alta. No caso dos transplantes hepáticos em São Paulo, é de 25,7%. Esse número torna-se especialmente cruel quando comparado à cifra norte-americana, que é de 8%.
Muitos fenômenos explicam a discrepância, desde a qualidade do atendimento médico até a forma de organizar a fila. No Brasil, fígados são alocados quase exclusivamente pelo critério cronológico. Exceto nos casos de hepatite fulminante e de retransplante, quem está há mais tempo na fila recebe o órgão antes.
O critério é democrático, mas não o mais eficiente. Alguns especialistas defendem a adoção do sistema Meld, um modelo matemático que, utilizando-se de resultados de certos exames laboratoriais, atribui uma pontuação para cada paciente. Pessoas em situação mais grave são atendidas antes. O Meld só foi adotado nos EUA no final de 2001, mas o país já organizava a fila segundo critérios médicos, e não apenas cronológico.
Uma fila mais organizada beneficia a todos. Só entrariam na lista de espera pessoas que já precisam do órgão, evitando que pacientes nos primeiros estágios de doença hepática se inscrevam na fila para "reservar" um lugar. A analogia que vale é a do trânsito. Há muitos carros circulando por uma pista que se estreita. Se o tráfico na ponta flui mais, o congestionamento tende a ser menor.
Os que se opõem à adoção do Meld lembram o histórico brasileiro de favorecimento dos mais ricos. Um princípio básico da democracia é o que assegura que ricos e pobres devam ter, pelo menos na área pública, igualdade de acesso. Mas critérios médicos não deveriam ser menosprezados sob o argumento de que possibilitam a fraude. A utilização deve ser a mais racional e justa possível, e as fraudes, quando constatadas, devem ser punidas.


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