|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CIDADE PICHADA
No dia da abertura da 26ª Bienal Internacional de São Paulo, duas obras foram marcadas com
a palavra "não", grafada com tinta
preta, em caracteres estilizados. Posteriormente, grafites reproduzindo
telas modernistas numa passagem
subterrânea da cidade foram rabiscados. Os dois incidentes voltaram a
chamar a atenção para as pichações
que se espalham pelo espaço urbano, sem poupar edificações e monumentos históricos.
O fenômeno tem sido objeto de debates, estudos e medidas que procuram compreendê-lo e enfrentá-lo.
Os grupos ou gangues que se formam em torno dessa atividade são
compostos majoritariamente de jovens de baixa renda, aparentemente
em busca de canais de expressão. Reportagem publicada por esta Folha
trouxe depoimentos que reforçam a
idéia de que os pichadores agem pelo
desejo de desafiar a paisagem urbana
e nela imprimir suas marcas para
granjear algum tipo de notoriedade.
Não há dúvida de que o vandalismo
precisa ser coibido exemplarmente,
mas o tempo já demonstrou que medidas apenas repressivas não bastam. Outros caminhos podem e devem ser trilhados. Há experiências
bastante positivas em São Paulo que
visam a oferecer aos pichadores novas possibilidades, como educação
voltada para a arte e o desenho gráfico, além da delimitação de espaços
para a grafitagem.
É de esperar que o poder público,
seja por meio da rede educacional,
seja em parcerias com organizações
não-governamentais e centros comunitários, amplie e intensifique as
ações que têm se revelado bem-sucedidas. É preciso forjar uma firme
consciência pública de repúdio às pichações e estimular, senão o apreço,
ao menos o respeito pela cidade. São
Paulo -que já é uma metrópole um
tanto inóspita em seu perfil urbanístico- não pode continuar assistindo
passivamente ao crescimento dessa
odiosa modalidade de agressão.
Texto Anterior: Editoriais: RODOVIAS NO BURACO Próximo Texto: São Paulo - Clóvis Rossi: Falta do que fazer/dizer Índice
|