São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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CIDADE PICHADA

No dia da abertura da 26ª Bienal Internacional de São Paulo, duas obras foram marcadas com a palavra "não", grafada com tinta preta, em caracteres estilizados. Posteriormente, grafites reproduzindo telas modernistas numa passagem subterrânea da cidade foram rabiscados. Os dois incidentes voltaram a chamar a atenção para as pichações que se espalham pelo espaço urbano, sem poupar edificações e monumentos históricos.
O fenômeno tem sido objeto de debates, estudos e medidas que procuram compreendê-lo e enfrentá-lo. Os grupos ou gangues que se formam em torno dessa atividade são compostos majoritariamente de jovens de baixa renda, aparentemente em busca de canais de expressão. Reportagem publicada por esta Folha trouxe depoimentos que reforçam a idéia de que os pichadores agem pelo desejo de desafiar a paisagem urbana e nela imprimir suas marcas para granjear algum tipo de notoriedade.
Não há dúvida de que o vandalismo precisa ser coibido exemplarmente, mas o tempo já demonstrou que medidas apenas repressivas não bastam. Outros caminhos podem e devem ser trilhados. Há experiências bastante positivas em São Paulo que visam a oferecer aos pichadores novas possibilidades, como educação voltada para a arte e o desenho gráfico, além da delimitação de espaços para a grafitagem.
É de esperar que o poder público, seja por meio da rede educacional, seja em parcerias com organizações não-governamentais e centros comunitários, amplie e intensifique as ações que têm se revelado bem-sucedidas. É preciso forjar uma firme consciência pública de repúdio às pichações e estimular, senão o apreço, ao menos o respeito pela cidade. São Paulo -que já é uma metrópole um tanto inóspita em seu perfil urbanístico- não pode continuar assistindo passivamente ao crescimento dessa odiosa modalidade de agressão.


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