São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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CLÓVIS ROSSI

Falta do que fazer/dizer

SÃO PAULO - O governo Lula deve estar tendo um desempenho excepcional se tudo o que a oposição tem a criticar nele é o uso político do Palácio do Planalto por meio da reunião com os prefeitos já eleitos pelo PT.
Ou então é pura falta do que fazer. Desde que se inventaram palácios, os seus ocupantes os utilizam para fazer política, sejam de direita, de esquerda, de centro, do Brasil ou de qualquer país, de hoje, de ontem ou de anteontem.
Fazer política, de resto, é parte inerente à atividade do governante. Só quem considera a política uma atividade suja é capaz de torcer o nariz quando um presidente pratica cenas explícitas de política no palácio em que despacha.
É bom lembrar que a política se torna de fato suja em reuniões de que ninguém toma conhecimento a não ser os trambiqueiros diretamente envolvidos e, às vezes, meses ou anos mais tarde, algum investigador do Ministério Público ou do Congresso ou dos meios de comunicação.
Não há, portanto, nada de mais em o presidente reunir-se com gente de seu partido e oferecer sugestões sobre como conquistar votos para que seu partido ganhe a eleição em São Paulo ou em qualquer outro lugar.
O eleitor está suficientemente informado para decidir se quer ou não votar nos correligionários do presidente. O de São Paulo (capital), por exemplo, não deu a menor bola para a atividade político-eleitoral do presidente no primeiro turno, tanto que votou majoritariamente por outros candidatos.
Já o presidente se especializa em falta do que dizer. Anteontem, produziu a seguinte pérola sobre as perspectivas de o Brasil deixar de ser um país em desenvolvimento:
"É preciso apenas consertar o que falta ser consertado para que as coisas entrem no eixo".
Madame Natasha, aquela amiga do Elio Gaspari que se esforça para entender o português enrolado (ou oco, como no caso), acha que o presidente quis dizer que, se o Brasil tivesse resolvido seus problemas, o Brasil não teria problemas.


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