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NELSON MOTTA
Pra que discutir com madame?
RIO DE JANEIRO - Logo que voltei a morar no Rio, depois de nove anos
em Nova York, liguei para uma "autorizada" para consertar o microondas. Disseram que viriam buscar.
Não vieram. Telefonei de novo e perguntei se não estavam interessados
no serviço. Disseram que buscariam.
Não vieram até hoje.
E reclamam da crise econômica, da
falta de dinheiro, do desemprego.
Depois, pedi a uma "especializada"
um orçamento para instalar ar-condicionado em casa. Mandariam um
técnico para calcular. Não veio até
hoje. Não se interessaram em ganhar
aquele dinheiro. Em Nova York, diversas firmas disputariam ferozmente o pedido, oferecendo descontos.
Aqui, nadando em dinheiro, o dispensam.
No correio, levei meia hora para
despachar um Sedex: todos os guichês
estavam ocupados com telessenas,
carnês Baú e outras produtos não-postais. Tentei reclamar. O gerente
estava no almoço. Lar, doce lar.
Num supermercado, com três produtos na mão, entrei na fila do caixa
"rápido" para clientes com menos de
dez itens. Na minha frente, havia
uma mulher de idade média, de classe média, que não estava grávida
nem tinha qualquer problema de locomoção, com uma cesta com uns 18
produtos. Perguntei por que ela seria
melhor do que todos os que estavam
nas outras filas? Que direito tinha de
usar aquele caixa? A mulher ficou
muito ofendida. E o resto da fila de
prejudicados não se pronunciou. Reclamei com a caixeira, pobrezinha,
que disse que não podia fazer nada,
diante do olhar furioso da "madame". Chamei o gerente, ele disse que
eu formalizasse uma reclamação por
escrito. A infratora passou triunfante
com sua sacola cheia, olhando-me
superiormente, como a um maluco.
A fila andou.
Mas o Brasil não vai andar enquanto gente desse tipo se achar com
esses direitos, fizer essas coisas e ninguém disser nada.
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