São Paulo, sexta-feira, 08 de outubro de 2004

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NELSON MOTTA

Pra que discutir com madame?

RIO DE JANEIRO - Logo que voltei a morar no Rio, depois de nove anos em Nova York, liguei para uma "autorizada" para consertar o microondas. Disseram que viriam buscar. Não vieram. Telefonei de novo e perguntei se não estavam interessados no serviço. Disseram que buscariam. Não vieram até hoje.
E reclamam da crise econômica, da falta de dinheiro, do desemprego.
Depois, pedi a uma "especializada" um orçamento para instalar ar-condicionado em casa. Mandariam um técnico para calcular. Não veio até hoje. Não se interessaram em ganhar aquele dinheiro. Em Nova York, diversas firmas disputariam ferozmente o pedido, oferecendo descontos. Aqui, nadando em dinheiro, o dispensam.
No correio, levei meia hora para despachar um Sedex: todos os guichês estavam ocupados com telessenas, carnês Baú e outras produtos não-postais. Tentei reclamar. O gerente estava no almoço. Lar, doce lar.
Num supermercado, com três produtos na mão, entrei na fila do caixa "rápido" para clientes com menos de dez itens. Na minha frente, havia uma mulher de idade média, de classe média, que não estava grávida nem tinha qualquer problema de locomoção, com uma cesta com uns 18 produtos. Perguntei por que ela seria melhor do que todos os que estavam nas outras filas? Que direito tinha de usar aquele caixa? A mulher ficou muito ofendida. E o resto da fila de prejudicados não se pronunciou. Reclamei com a caixeira, pobrezinha, que disse que não podia fazer nada, diante do olhar furioso da "madame". Chamei o gerente, ele disse que eu formalizasse uma reclamação por escrito. A infratora passou triunfante com sua sacola cheia, olhando-me superiormente, como a um maluco. A fila andou.
Mas o Brasil não vai andar enquanto gente desse tipo se achar com esses direitos, fizer essas coisas e ninguém disser nada.


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