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JOSÉ SARNEY
Quem é o pai da criança
Os jornais noticiam a morte do
cientista Maurice Wilkins, um
dos envolvidos na descoberta do DNA
e Prêmio Nobel de Medicina de 1962.
A história dessa pesquisa também é
cheia de dúvidas. Quem primeiro descobriu as coisas fundamentais do
DNA, ao fotografar a hélice da molécula (que depois se soube ser dupla)
que hoje é exposta como seu retrato,
foi a jovem cientista do King's College
Rosalind Franklin. Depois outros entraram na história (Watson, Crick e
Wilkins). E, com tanta gente, uns trabalhando aqui, outros acolá, ficou-se
sem saber exatamente quem foi o pai
ou a mãe do DNA. Assim, o DNA, que
popularmente é tido como o método
pelo qual se descobre a paternidade de
alguém, foi incapaz de desvendar sua
própria paternidade.
O professor Wilkins, agora falecido,
também foi recrutado para trabalhar
no projeto da bomba atômica. O homem que ajudou a desvendar os mecanismos da vida tinha colaborado
com um dos métodos mais cruéis de
matar. Depois, como sempre acontece, quando o estrago já estava feito,
tornou-se pacifista.
A descoberta do DNA, há 50 anos,
merece ser tida como a maior descoberta do século passado. Mas o que se
descobriu e já se utiliza é infinitesimalmente inferior ao que falta descobrir.
É como o mapa do genoma, que é como uma enciclopédia triturada no liquidificador. Falta arrumar as letras
em palavras, as palavras em frases, as
frases em verbetes.
Agora mesmo estão no Museu Histórico Nacional os manuscritos do
mar Morto, descoberta importante
para o cristianismo verificar as suas
origens. Como os documentos estão
muito estragados, é possível ler os textos que são referências bíblicas, mas
não se consegue desvendar milhares
de fragmentos que não se juntam nem
fazem sentido. O que seria o mais interessante -saber o que pensavam os
essênios, que praticavam muitos dos
ensinamentos de Jesus- não se pode
ler.
Nada mais importante para melhorar a qualidade de vida da humanidade que as descobertas científicas, principalmente aquelas que tiveram aplicações médicas. Mas, à proporção que
descobrimos coisas, abrimos uma caixa de lenços em que aparece muito
mais o que falta descobrir. Um retirado puxa outro e assim não chegamos
ao fim. Li outro dia, eu que pensava
que a teoria da física pura estivesse
consolidada, que ela não explica quase
nada e que os séculos futuros vão trazer outra. Galileu, Newton, Einstein e
outros monstros sagrados serão substituídos na infinita busca do homem
por dominar os saberes. A idéia de
Deus fica, assim, cada dia mais forte
quando o que se descobre são apenas
farrapos do que é preciso descobrir.
Remanesce o segredo do que é a vida.
Todo evento natural de que ter uma
causa. Como começou a vida? O antes?
Pascal foi o primeiro a ver a relatividade, falando do infinitamente pequeno e do infinitamente grande e de como somos incapazes de conhecer o
universo material, um nada nas verdadeiras questões do conhecimento.
O DNA foi um grande passo. Já sabemos como se transmitem as informações que dizem como cada ser vivo
vai ser. Nós todos já sabemos o que somos: macacos evoluídos. Quem vier à
frente vai saber o que será.
O homem, assim, pensa que domina
o mundo e o fim do mundo.
José Sarney escreve às sextas-feiras nesta coluna.
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