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CLÓVIS ROSSI
Purificação meia boca
SÃO PAULO - A introdução da
chamada "cláusula de barreira" deu
uma purificada no sistema partidário, certo? Pelo menos, reduziu para oito o número de partidos autorizados a gozar das vantagens do pleno funcionamento parlamentar.
Oito, se o Tribunal Superior Eleitoral referendar a interpretação mais
lógica da regra.
Mas a purificada, como quase tudo no Brasil, é meia boca.
Para começar, oito partidos é
uma demasia. Não há no Brasil e no
mundo oito diferentes ideologias,
programas nem mesmo oito idéias-força diferentes a serem oferecidas
ao eleitorado.
Prova-o o fato de que, no mundo
civilizado, o jogo se dá entre dois
partidos grandes, bem grandes,
coadjuvados por um ou dois menores. São trabalhistas e conservadores no Reino Unido, democratas e
republicanos nos Estados Unidos,
socialistas e conservadores na Espanha e por aí vai.
Nesse jogo reduzido, há espaço
até para extremos, caso da Frente
Nacional na França, no que é, a um
só tempo, a beleza e a vulnerabilidade da democracia, que permite a
existência de gente que sonha em
acabar com ela.
Mas o excesso de partidos, mesmo após a purificação, não é o único
problema. Há ainda a absurda indiferenciação entre eles, claramente
retratada na foto-arte "A salada fluminense de Lula", publicada por esta Folha na sexta-feira. Sem grande
esforço, a "salada" poderia ser reconstituída para todos os demais
partidos.
Mais: os oito partidos que superaram a cláusula de barreira amontoam-se todos do centro à direita.
Não há esquerda, já que PSOL-PSTU não passaram no teste.
O sistema político-partidário é
obviamente desfuncional. E ainda
vai se verificar que a desfuncionalidade é, ao menos em parte, a causa
de todos os demais -arquiconhecidos- problemas sociais, éticos,
econômicos etc.
crossi@uol.com.br
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