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SALDO FRÁGIL
A grande turbulência que o
mercado financeiro vem atravessando há meses não se traduziu,
até o momento, numa piora significativa da atividade produtiva. Mais
evidências disso surgiram ontem: o
IBGE apurou que a produção industrial brasileira teve em setembro seu
quinto mês consecutivo de alta; e, de
acordo com a Anfavea, a produção e
as vendas de veículos em outubro foram as maiores desde maio de 2001
-é verdade que com a ajuda da redução de impostos concedida pelo governo ao setor.
Seria certamente precipitado afirmar que a economia está crescendo.
Ela se encontra quase estagnada, sob
a influência de vetores de contenção
(como a queda da renda dos assalariados) e de expansão (como as exportações) que até o momento se
compensam. O PIB deve fechar o ano
com crescimento bem baixo, próximo de 1%.
A estagnação da economia inibe as
importações e assim ajuda a explicar
a melhora muito rápida do saldo no
comércio exterior. Mas o papel da alta violenta do dólar -que encareceu
as importações e facilitou as exportações- não pode ser subestimado.
Obviamente é desejável que a cotação do dólar recue nos próximos meses. Esse será um dos objetivos centrais da política econômica, pois a
persistência do dólar em nível muito
alto teria impacto inflacionário difícil
de tolerar e tenderia a comprometer a
possibilidade de uma reativação,
mesmo modesta, da atividade econômica. Mas uma combinação de revalorização expressiva do real e retomada da economia tenderia a estancar a expansão do saldo comercial.
Se a queda do dólar e a retomada da
economia são desejáveis, interromper a elevação do saldo comercial
certamente não é. O fechamento do
crédito externo privado ao país pode
se prolongar 2003 adentro. Assim, a
continuidade da melhora da balança
comercial tende a ser crucial para
consolidar a redução da vulnerabilidade externa do país.
Logo, para poder liberar o crescimento da economia sem agravar a
inflação nem fragilizar as contas externas, a política econômica terá de
reforçar, de maneira sustentada, a
capacidade do país de exportar e de
substituir importações -o que inclui estimular investimentos nessas
atividades.
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