São Paulo, sexta-feira, 08 de novembro de 2002

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SALDO FRÁGIL

A grande turbulência que o mercado financeiro vem atravessando há meses não se traduziu, até o momento, numa piora significativa da atividade produtiva. Mais evidências disso surgiram ontem: o IBGE apurou que a produção industrial brasileira teve em setembro seu quinto mês consecutivo de alta; e, de acordo com a Anfavea, a produção e as vendas de veículos em outubro foram as maiores desde maio de 2001 -é verdade que com a ajuda da redução de impostos concedida pelo governo ao setor.
Seria certamente precipitado afirmar que a economia está crescendo. Ela se encontra quase estagnada, sob a influência de vetores de contenção (como a queda da renda dos assalariados) e de expansão (como as exportações) que até o momento se compensam. O PIB deve fechar o ano com crescimento bem baixo, próximo de 1%.
A estagnação da economia inibe as importações e assim ajuda a explicar a melhora muito rápida do saldo no comércio exterior. Mas o papel da alta violenta do dólar -que encareceu as importações e facilitou as exportações- não pode ser subestimado.
Obviamente é desejável que a cotação do dólar recue nos próximos meses. Esse será um dos objetivos centrais da política econômica, pois a persistência do dólar em nível muito alto teria impacto inflacionário difícil de tolerar e tenderia a comprometer a possibilidade de uma reativação, mesmo modesta, da atividade econômica. Mas uma combinação de revalorização expressiva do real e retomada da economia tenderia a estancar a expansão do saldo comercial.
Se a queda do dólar e a retomada da economia são desejáveis, interromper a elevação do saldo comercial certamente não é. O fechamento do crédito externo privado ao país pode se prolongar 2003 adentro. Assim, a continuidade da melhora da balança comercial tende a ser crucial para consolidar a redução da vulnerabilidade externa do país.
Logo, para poder liberar o crescimento da economia sem agravar a inflação nem fragilizar as contas externas, a política econômica terá de reforçar, de maneira sustentada, a capacidade do país de exportar e de substituir importações -o que inclui estimular investimentos nessas atividades.


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