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DE PACTO A PACTO
O que o Partido dos Trabalhadores chama de pacto social,
bordão utilizado por vários políticos
e governos desde a redemocratização, é, numa tradução literal, apenas
uma modalidade comum de exercício da política. Trata-se de ouvir partes interessadas em certas políticas
de Estado e, depois, estabelecer
quais serão os beneficiados e os prejudicados por essas políticas.
É bom esquecer desde logo o
exemplo do famoso Pacto de Moncloa, feito na década de 1970 para garantir a transição democrática na Espanha. Não é esse o melhor paradigma para o Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social prometido pelo presidente eleito, Luiz Inácio
Lula da Silva. O Brasil já superou a fase de transição entre o regime militar
e o democrático.
E é saudável não nutrir grandes expectativas acerca do conselho, que
seria, para muitos petistas, como
que uma revolução na forma de fazer
política no Brasil. Durante a campanha, Lula não se cansou de "vender"
essa idéia, dizendo que o grande problema do país seria a falta de diálogo
entre a sociedade civil e o governo.
Na origem da idealização do pacto
social pelos petistas está o modelo de
ação sindical, em que representantes
de trabalhadores e de patrões se sentam à mesa e negociam uma solução
para seus conflitos. Também se pode
encontrar, nessa genealogia, o modelo das câmaras setoriais, aplicado
no passado recente, em que negociações entre empresários e trabalhadores contavam também com a participação do governo.
Esse tipo de encontro funciona
bem em alguns setores -em que as
partes podem ceder um pouco em
busca de um resultado melhor para
todos no futuro. Mas não serve como
"solução geral". A tarefa básica do
Executivo federal, especialmente sob
um governo que promete mudanças,
continua sendo arbitrar interesses
concretos, ou seja, determinar perdedores e ganhadores no jogo político, social e econômico.
Que o governo ouça os setores da
sociedade civil antes de tomar suas
decisões é, evidentemente, desejável.
Que acredite que com isso vá abolir
os problemas da economia política,
livrando-se da escassez e do conflito,
é, para dizer o menos, ingenuidade.
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