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CARLOS HEITOR CONY
Niomar
RIO DE JANEIRO - Na semana passada, aos 87 anos, morreu Niomar Moniz Sodré Bittencourt, a mulher que,
aqui no Brasil, mais se aproximou da
figura mítica da Passionária. Não
chegou a ser uma guerrilheira no sentido tradicional, mas uma resistente
da causa da liberdade, comumente
agredida, ora pelos fanáticos da esquerda, ora pelos da direita.
Proprietária do "Correio da Manhã", dona atuante que ficava na
Redação até a edição do dia fechar,
ela fez cerrada oposição ao governo
de João Goulart, responsabilizando-se pelos dois históricos editoriais
-"Basta!" e "Fora!"-, que foram a
senha da sociedade civil contra o caos
daquele início de ano.
Mas, no dia seguinte ao golpe militar, abriu seu jornal, cujos tópicos tinham a fama de derrubar ministros,
aos cronistas e colunistas de sua redação, publicando os primeiros textos e na certa os mais veementes contra a ditadura progressiva que se instalava no país.
A consequência, a médio prazo, foi
a invasão de seu jornal, quando, em
dezembro de 1968, presa na própria
Redação, foi levada para uma cela
comum no Dops, onde passou uma
longa temporada entre presas comuns, em condições subumanas de
promiscuidade e de higiene.
Perdeu tudo: o jornal, os bens, os direitos políticos. Figura obrigatória da
sociedade carioca, fundadora e primeira diretora do Museu de Arte
Moderna do Rio, ela jamais namorou a esquerda ou a direita, não se
beneficiou dos governos que, às vezes
combatia, às vezes (raras) apoiava.
Uma lição de independência que
aprendera com Paulo Bittencourt.
Por falar em Paulo, lembro a melhor definição de seu caráter, feita
por Carlos Lacerda, que então se situava em trincheira contrária: "Paulo é insubornável. Só se vende por um
almoço que ele mesmo paga".
Ao escrever a "História da Imprensa Brasileira", Nelson Werneck Sodré
disse: "Niomar merecerá sempre o
emocionado respeito de todos os que
amam a liberdade acima de tudo".
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