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São Paulo, sábado, 08 de novembro de 2003

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CARLOS HEITOR CONY

Niomar

RIO DE JANEIRO - Na semana passada, aos 87 anos, morreu Niomar Moniz Sodré Bittencourt, a mulher que, aqui no Brasil, mais se aproximou da figura mítica da Passionária. Não chegou a ser uma guerrilheira no sentido tradicional, mas uma resistente da causa da liberdade, comumente agredida, ora pelos fanáticos da esquerda, ora pelos da direita.
Proprietária do "Correio da Manhã", dona atuante que ficava na Redação até a edição do dia fechar, ela fez cerrada oposição ao governo de João Goulart, responsabilizando-se pelos dois históricos editoriais -"Basta!" e "Fora!"-, que foram a senha da sociedade civil contra o caos daquele início de ano.
Mas, no dia seguinte ao golpe militar, abriu seu jornal, cujos tópicos tinham a fama de derrubar ministros, aos cronistas e colunistas de sua redação, publicando os primeiros textos e na certa os mais veementes contra a ditadura progressiva que se instalava no país.
A consequência, a médio prazo, foi a invasão de seu jornal, quando, em dezembro de 1968, presa na própria Redação, foi levada para uma cela comum no Dops, onde passou uma longa temporada entre presas comuns, em condições subumanas de promiscuidade e de higiene.
Perdeu tudo: o jornal, os bens, os direitos políticos. Figura obrigatória da sociedade carioca, fundadora e primeira diretora do Museu de Arte Moderna do Rio, ela jamais namorou a esquerda ou a direita, não se beneficiou dos governos que, às vezes combatia, às vezes (raras) apoiava. Uma lição de independência que aprendera com Paulo Bittencourt.
Por falar em Paulo, lembro a melhor definição de seu caráter, feita por Carlos Lacerda, que então se situava em trincheira contrária: "Paulo é insubornável. Só se vende por um almoço que ele mesmo paga".
Ao escrever a "História da Imprensa Brasileira", Nelson Werneck Sodré disse: "Niomar merecerá sempre o emocionado respeito de todos os que amam a liberdade acima de tudo".


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