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DOA A QUEM DOER?
A notícia de que um relatório
interno da Polícia Federal acusa
um órgão do próprio Ministério da
Justiça de "criar obstáculos" a investigações vinculadas ao escândalo de
corrupção vai em sentido contrário
ao do discurso oficial. Com efeito,
tornou-se uma espécie de ladainha
do governo, repetida pelo presidente
e por seus assessores, dizer que
"nunca" se investigou tanto quanto
na atual administração e que as averiguações a cargo da PF serão levadas
adiante "doa a quem doer".
Não é bem isso o que estava ocorrendo no caso que envolve as movimentações financeiras do publicitário Duda Mendonça no exterior. Como se sabe, o marqueteiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula
da Silva afirmou na CPI que parte do
pagamento dos serviços que prestou
ao PT foi realizada fora do país, de
maneira fraudulenta.
O documento da PF afirma que o
Departamento de Recuperação de
Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), criado pela atual gestão, dificultou o acesso de policiais
brasileiros a documentos durante diligência feita em Nova York em outubro. Segundo o texto, a coordenadora-geral do DRCI, Wanine Santana
Lima, teria tentado "influenciar as
autoridades americanas a não repassar as informações solicitadas às autoridades de investigação constituídas e legitimadas".
Apesar das manobras, na sexta-feira chegaram finalmente ao Brasil oito caixas de documentos relativos à
quebra do sigilo de contas bancárias
da empresa Dusseldorf Company,
do referido publicitário, e de outras
17 que a abasteciam.
Ao que se sabe, além do PT, políticos de variadas procedências também temem o que essas caixas podem revelar. Duda Mendonça já
prestou serviços a candidatos de diversos partidos. Não é improvável
que novas escaramuças, visando a
abafar o inquérito, venham a ocorrer. Resta esperar que prevaleça o interesse público e que todos os aspectos dessa verdadeira ciranda de irregularidades em que se transformou a
política nacional sejam esclarecidos.
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