São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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DOA A QUEM DOER?

A notícia de que um relatório interno da Polícia Federal acusa um órgão do próprio Ministério da Justiça de "criar obstáculos" a investigações vinculadas ao escândalo de corrupção vai em sentido contrário ao do discurso oficial. Com efeito, tornou-se uma espécie de ladainha do governo, repetida pelo presidente e por seus assessores, dizer que "nunca" se investigou tanto quanto na atual administração e que as averiguações a cargo da PF serão levadas adiante "doa a quem doer".
Não é bem isso o que estava ocorrendo no caso que envolve as movimentações financeiras do publicitário Duda Mendonça no exterior. Como se sabe, o marqueteiro da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou na CPI que parte do pagamento dos serviços que prestou ao PT foi realizada fora do país, de maneira fraudulenta.
O documento da PF afirma que o Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), criado pela atual gestão, dificultou o acesso de policiais brasileiros a documentos durante diligência feita em Nova York em outubro. Segundo o texto, a coordenadora-geral do DRCI, Wanine Santana Lima, teria tentado "influenciar as autoridades americanas a não repassar as informações solicitadas às autoridades de investigação constituídas e legitimadas".
Apesar das manobras, na sexta-feira chegaram finalmente ao Brasil oito caixas de documentos relativos à quebra do sigilo de contas bancárias da empresa Dusseldorf Company, do referido publicitário, e de outras 17 que a abasteciam.
Ao que se sabe, além do PT, políticos de variadas procedências também temem o que essas caixas podem revelar. Duda Mendonça já prestou serviços a candidatos de diversos partidos. Não é improvável que novas escaramuças, visando a abafar o inquérito, venham a ocorrer. Resta esperar que prevaleça o interesse público e que todos os aspectos dessa verdadeira ciranda de irregularidades em que se transformou a política nacional sejam esclarecidos.


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