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REVOLTA NA FRANÇA
A rebelião de jovens suburbanos que há 12 dias dilacera a
França constitui o mais sério desafio
à autoridade do Estado desde os protestos estudantis de 1968. Os distúrbios, que começaram nas vizinhanças da empobrecida Clichy-sous-Bois e rapidamente se espalharam
por toda a periferia de Paris, agora
ganharam a capital francesa e praticamente todas as grandes cidades do
país. Já se registraram incidentes na
Bélgica e na Alemanha, e outras nações européias temem o contágio.
Não se pode descartar um cenário de
protestos generalizados por toda a
Europa ocidental.
Como sempre ocorre em rebeliões
sem líderes, é difícil traduzir em exigências concretas as demandas dos
sublevados. É certo que os jovens,
em sua maioria franceses descendentes de imigrantes do norte da
África, exigem a melhoria das condições econômicas em que vivem. Esse
parece ser um ingrediente necessário
para a revolta, porém insuficiente para explicá-la. Afinal, embora ocupem
a base da escala social francesa, vivem nas condições relativamente
boas proporcionadas pelo "welfare
state" local. Têm direito a educação e
saúde gratuitas, salário-desemprego
e outras formas de amparo.
Sentem-se, entretanto, injustiçados e reclamam igualdade de oportunidades. Com efeito, as periferias
tornaram-se verdadeiros guetos étnicos, dos quais são pequenas as chances de um jovem sair. Ficam, assim,
desesperançados, o que tende a ser
um excelente motor para revoltas.
Essa situação vem sendo agravada
por uma crescente intolerância da
França "oficial" para com a França
islâmica dos subúrbios -e vice-versa. Desde o 11 de Setembro, aumentaram a desconfiança e a repressão
-e o veto ao uso do "hijab" (véu islâmico) na escola pública foi simbólico quanto a isso. Seria fácil justificar
a revolta "vitimizando" os filhos de
imigrantes e culpando os europeus,
mas as perspectivas de convivência
pacífica entre esses dois mundos envolvem questões bastante complexas
e constituem um dos grandes desafios do mundo contemporâneo.
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