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ELIANE CANTANHÊDE
Bush e suas platéias
BRASÍLIA - Dois palcos e duas medidas. No palco oficial, ao lado de Lula,
George W. Bush foi cauteloso, falou
de comércio e deu recados positivos e
simpáticos -como a sugestão de
uma aliança Brasil-EUA para pressionar a União Européia a reduzir os
subsídios agrícolas que tanto prejudicam países produtores, como o Brasil.
Mas, no palco extragoverno, diante
de empresários e de políticos, inclusive da oposição, Bush deu recados
mais duros e incômodos. Condenou a
corrupção, diretamente, e a Venezuela, indiretamente.
Pregou que "todos os governos nas
Américas precisam ser livres de corrupção", num momento em que o
Brasil convive com três CPIs e o Planalto e o Congresso passam por sérios
constrangimentos éticos.
Em relação a Hugo Chávez, amigo
do governo Lula e inimigo número 1
dos EUA na América do Sul, Bush
também reservou suas alfinetadas
para o palco do hotel onde ficou hospedado, a quilômetros do Torto e de
Lula. Foi ali que condenou países que
jogam "vizinho contra vizinho", numa clara referência à Venezuela.
Aliás, o recurso de soprar no palco
público e morder no privado também
foi usado pela secretária de Estado,
Condoleezza Rice, quando veio ao
Brasil. No Planalto e no Itamaraty,
formalidades e gentilezas. No debate
com "representantes da sociedade",
como índios, negros e políticos regionais, condenou frontalmente a "falta
de democracia" do regime Chávez.
Todos os recados foram dados, mas
mantendo o bom clima. Fazia sol e
calor em Brasília. Lula, Bush, mulheres e assessores riram muito, comeram do melhor, tiveram vinho e caipirinha de caju à disposição.
O êxito político esgotou-se no gesto
em si, sem nada de concreto. E a expectativa é de bons resultados na
área de comércio, com redução expressiva dos subsídios agrícolas. Só
falta combinar com "o adversário": a
União Européia, tão campeã de subsídios quanto os EUA. Ou os dois baixam, ou nada muda. Nessa, Brasília e Washington viraram aliadas.
@ - elianec@uol.com.br
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