São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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ELIANE CANTANHÊDE

Bush e suas platéias

BRASÍLIA - Dois palcos e duas medidas. No palco oficial, ao lado de Lula, George W. Bush foi cauteloso, falou de comércio e deu recados positivos e simpáticos -como a sugestão de uma aliança Brasil-EUA para pressionar a União Européia a reduzir os subsídios agrícolas que tanto prejudicam países produtores, como o Brasil.
Mas, no palco extragoverno, diante de empresários e de políticos, inclusive da oposição, Bush deu recados mais duros e incômodos. Condenou a corrupção, diretamente, e a Venezuela, indiretamente.
Pregou que "todos os governos nas Américas precisam ser livres de corrupção", num momento em que o Brasil convive com três CPIs e o Planalto e o Congresso passam por sérios constrangimentos éticos.
Em relação a Hugo Chávez, amigo do governo Lula e inimigo número 1 dos EUA na América do Sul, Bush também reservou suas alfinetadas para o palco do hotel onde ficou hospedado, a quilômetros do Torto e de Lula. Foi ali que condenou países que jogam "vizinho contra vizinho", numa clara referência à Venezuela.
Aliás, o recurso de soprar no palco público e morder no privado também foi usado pela secretária de Estado, Condoleezza Rice, quando veio ao Brasil. No Planalto e no Itamaraty, formalidades e gentilezas. No debate com "representantes da sociedade", como índios, negros e políticos regionais, condenou frontalmente a "falta de democracia" do regime Chávez.
Todos os recados foram dados, mas mantendo o bom clima. Fazia sol e calor em Brasília. Lula, Bush, mulheres e assessores riram muito, comeram do melhor, tiveram vinho e caipirinha de caju à disposição.
O êxito político esgotou-se no gesto em si, sem nada de concreto. E a expectativa é de bons resultados na área de comércio, com redução expressiva dos subsídios agrícolas. Só falta combinar com "o adversário": a União Européia, tão campeã de subsídios quanto os EUA. Ou os dois baixam, ou nada muda. Nessa, Brasília e Washington viraram aliadas.


@ - elianec@uol.com.br

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