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CLÓVIS ROSSI
Quantas missas vale Paris?
BUENOS AIRES - O que está acontecendo em Paris e em outras cidades
francesas parece a repetição, sem o
morro, da situação das favelas do Rio
de Janeiro ou de outras regiões do
Brasil em que o Estado já não controla nem tem, como seria de rigor, o
monopólio no uso das armas.
O problema é que ocorre justamente em uma das mais simbólicas cidades do Ocidente rico e glamuroso e
que, ainda por cima, orgulha-se
imensamente de sua "liberdade/igualdade/fraternidade".
A avaliação mais convencional sobre a crise das "banlieues" parisienses já foi feita pelo próprio presidente
Jacques Chirac, em um livro velho
("A França para Todos"), como recorda o jornal britânico "Financial
Times". "Mais da metade da população francesa não é nem entendida
nem protegida. As pessoas perderam
a confiança. Seu desespero leva à resignação; há o risco de incitar o ódio.
Estamos à mercê de uma explosão social", escrevia Chirac.
Mas não explica tudo. Faz tempo
que é assim, faz tempo que, nos subúrbios, se amontoam filhos ou netos
dos primeiros imigrantes, que os sociólogos Stéphane Beaud e Gérard
Noiriel chamam de "os novos párias
da República".
Ao contrário dos pais ou avós, conformados porque até o "desespero"
em que Chirac os via é preferível ao
insuportável do que fugiram, a terceira geração não aceita passivamente a exclusão do banquete.
Se é assim há algum tempo, por que
explodiram agora em tão larga escala? Porque, como no Brasil, tornaram-se recrutas da violência dos
"caids", os chefes da droga. E/ou de líderes islamistas radicais.
É um problema social, mas é também um problema policial. Não dá
para confundir as coisas e alegrar-se,
como certos setores da esquerda idiotizada, com o ataque a símbolos do
capitalismo.
Essa meninada não está procurando "liberdade/igualdade/fraternidade" nem nos subúrbios de Paris nem
nos morros do Rio.
@ - crossi@uol.com.br
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