São Paulo, terça-feira, 08 de novembro de 2005

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CLÓVIS ROSSI

Quantas missas vale Paris?

BUENOS AIRES - O que está acontecendo em Paris e em outras cidades francesas parece a repetição, sem o morro, da situação das favelas do Rio de Janeiro ou de outras regiões do Brasil em que o Estado já não controla nem tem, como seria de rigor, o monopólio no uso das armas.
O problema é que ocorre justamente em uma das mais simbólicas cidades do Ocidente rico e glamuroso e que, ainda por cima, orgulha-se imensamente de sua "liberdade/igualdade/fraternidade".
A avaliação mais convencional sobre a crise das "banlieues" parisienses já foi feita pelo próprio presidente Jacques Chirac, em um livro velho ("A França para Todos"), como recorda o jornal britânico "Financial Times". "Mais da metade da população francesa não é nem entendida nem protegida. As pessoas perderam a confiança. Seu desespero leva à resignação; há o risco de incitar o ódio. Estamos à mercê de uma explosão social", escrevia Chirac.
Mas não explica tudo. Faz tempo que é assim, faz tempo que, nos subúrbios, se amontoam filhos ou netos dos primeiros imigrantes, que os sociólogos Stéphane Beaud e Gérard Noiriel chamam de "os novos párias da República".
Ao contrário dos pais ou avós, conformados porque até o "desespero" em que Chirac os via é preferível ao insuportável do que fugiram, a terceira geração não aceita passivamente a exclusão do banquete.
Se é assim há algum tempo, por que explodiram agora em tão larga escala? Porque, como no Brasil, tornaram-se recrutas da violência dos "caids", os chefes da droga. E/ou de líderes islamistas radicais.
É um problema social, mas é também um problema policial. Não dá para confundir as coisas e alegrar-se, como certos setores da esquerda idiotizada, com o ataque a símbolos do capitalismo.
Essa meninada não está procurando "liberdade/igualdade/fraternidade" nem nos subúrbios de Paris nem nos morros do Rio.


@ - crossi@uol.com.br

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