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RUY CASTRO
A casa branca
RIO DE JANEIRO - Em 1938, Billie Holiday, cantora negra americana, não era admitida nos hotéis
que hospedavam seus colegas da orquestra branca de Artie Shaw. O liberal Shaw armava um bode na recepção e, se Billie não pudesse ficar
com eles, marchavam todos para
fora da espelunca e da cidade.
Na década de 40, Duke Ellington,
já tido como um dos homens mais
elegantes da América, também só
podia hospedar-se com sua orquestra nos guetos das cidades em que
se apresentavam. Outra cantora negra, Lena Horne, era um grande nome da MGM, mas, de tão perigosamente linda, sua parte nos filmes limitava-se a um número musical
-que pudesse ser cortado nos Estados racistas, sem prejuízo da trama.
Em 1956, o programa semanal de
Nat "King" Cole na TV americana
nunca atraiu um patrocinador nacional, e a NBC só o manteve no ar
durante 64 semanas porque astros
como Frank Sinatra, Peggy Lee e
Tony Bennett ofereciam-se para
cantar nele quase de graça. Os empresários temiam que seus produtos fossem boicotados se patrocinassem o programa de um negro.
Nessa época, um hotel de Las Vegas mandou esvaziar e lavar a piscina em que a estrela de sua boate, a
maravilhosa Dorothy Dandridge,
nadara naquele dia. Dorothy não tinha quem a defendesse da ofensa,
porque seu namorado branco, o cineasta Otto Preminger, não a assumia publicamente.
Em 1960, ao lado de Sinatra e
Dean Martin, Sammy Davis Jr. trabalhou duro na campanha de John
Kennedy à Presidência. Com Kennedy eleito, Sammy Davis foi "desconvidado" para a festa de posse na
Casa Branca por estar namorando
uma das mulheres mais desejadas
do país, a louríssima Kim Novak.
Daí que, para os americanos, a
presença de Barack Obama e sua família na Casa Branca é -como se
diz mesmo?- emblemática.
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