São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

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ALIANÇA ESDRÚXULA

As tratativas entre o ex-governador Leonel Brizola e o senador Jorge Bornhausen, com vistas a aproximar o PDT e o PFL tanto na frente federal quanto nas eleições municipais, são mais um exemplo enfático da inconsistência ideológica e programática que impera no meio político brasileiro.
São conhecidos os dois líderes. O primeiro criou-se à sombra do trabalhismo e do populismo de esquerda. Esteve no exílio, enquanto o segundo apoiava o regime militar. Com a redemocratização, Brizola, de volta ao país, mostrou que suas convicções ideológicas eram, na verdade, bastante maleáveis sempre que se tratava de buscar sucesso eleitoral ou fazer alianças com poderosos, entre os quais figura o ex-presidente Fernando Collor de Mello.
O segundo, Bornhausen, é cacique de um partido que pode ser classificado como de direita, cujo histórico de fisiologismo e cuja capacidade de aderência aos mais diversos governos se tornaram referências nacionais. Basta dizer que desde sua criação é a primeira vez que o PFL se vê no papel de oposição federal.
É portanto a mesma desenvoltura na hora de abrir mão de posições políticas e ideológicas que parece unir agora os dois nessa aliança que ambos classificam -como se fosse necessário- de "não-ideológica".
Lamentavelmente, o oportunismo dos líderes do PDT e do PFL não é fato isolado em nosso teatro político. O próprio PT, partido que se notabilizou por imprimir à sua conduta um padrão de coerência nem sempre visto no país, também houve por bem esquecer o que dizia para assumir projetos e fazer acordos os mais esdrúxulos. Diante de tanta desorientação, o eleitor brasileiro só pode mesmo fazer o que muitas lideranças tantas vezes lamentam: descrer dos partidos e dos políticos que pretendem representá-lo.


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