São Paulo, sexta-feira, 09 de janeiro de 2004

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QUANTO MAIS QUENTE PIOR

Há muito que cientistas temem os efeitos do aquecimento global. As consequências mais graves incluem a elevação do nível dos oceanos e mudanças no clima, com variações de temperatura, de estações e no regime de chuvas. Isso terá, evidentemente, impacto sobre seres vivos. E, ao que tudo indica, ele será bastante negativo.
Pesquisa inédita publicada pela revista científica "Nature" desta semana sugere que um acréscimo de 1,8C a 2C na temperatura média do planeta até 2050 poderia resultar na extinção de 24% das espécies. Registre-se que esse não é o pior cenário. Se o aumento de temperatura nas próximas décadas for superior a 2C, 35% da biodiversidade poderia desaparecer. Na versão otimista da projeção (aquecimento entre 0,8C e 1,7C), pereceriam 18% das espécies.
Estudos dessa natureza são sempre frágeis. Baseiam-se em modelos matemáticos que encerram uma série de pressupostos que podem ou não se materializar. No caso, não se leva em conta, entre outros fatores, a capacidade de dispersão das espécies pelo ambiente ou a adaptação a outros habitats, o que, em princípio, poderia salvá-las da aniquilação.
Esses pontos fracos metodológicos não devem servir para que se receba a pesquisa com menos preocupação. Registros fósseis indicam que variações relativamente bruscas das condições climáticas já resultaram em extinções em massa. No último meio bilhão de anos, houve cinco grandes hecatombes biológicas. Na mais grave delas, a do Permiano (251 milhões de anos atrás), 95% das espécies desapareceram.
Cientistas associam a maioria dessas extinções a cataclismos como a queda de asteróides sobre a Terra. Desta feita, contudo, as razões para a extinção seriam em grande parte produzidas pelo homem. A queima de combustíveis fósseis é, ao que tudo indica, o fator que está levando ao aquecimento global. Ainda podemos evitar pelo menos os cenários mais trágicos. É preciso agir rápido para implementar o Protocolo de Kyoto, que pretende reduzir as emissões de gases que estão tornando a Terra mais quente.


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