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IMPOSTO INFLACIONÁRIO
Analistas sugerem que parte do
ajuste no déficit público virá, ainda
que não de modo premeditado pelo
governo, do imposto inflacionário.
Quanto maior a inflação, mais o
mero adiamento de gastos públicos
reduz o valor efetivamente desembolsado. Mas a arrecadação de impostos é protegida por regras de correção e multas aos contribuintes. A
inflação corrói menos a receita que o
gasto previsto no Orçamento.
Alguma inflação é inevitável após
uma desvalorização cambial expressiva e, sem dúvida, ela cumpre esse
papel perverso de facilitar o financiamento do déficit público. Mas se trata de ganho limitado e de alto risco.
Em primeiro lugar, quanto maior a
inflação, menor se revelará também
a desvalorização cambial em termos
reais, ou seja, descontada a inflação.
É que o aumento de preços "come"
parte dos ganhos do ajuste cambial.
Se a inflação sobe demais e volta a
percepção de que a desvalorização
foi insuficiente, o câmbio pode ser de
novo desvalorizado, provocando
mais inflação e, assim, indefinidamente. Arma-se um círculo vicioso.
Ou seja, o fim da âncora cambial
traz um risco de descontrole inflacionário. Se os mercados e a sociedade
acreditarem que o governo é leniente
no combate à inflação, aumentarão
as pressões pela reindexação de contratos e salários.
Essa é mais uma razão para que o
governo mostre sua disposição de
aprofundar o ajuste fiscal e as privatizações. Quanto maior a confiança
dos mercados na capacidade de o governo financiar seu desequilíbrio por
meios diretos e transparentes, mais
forte será a percepção de que o Estado não depende mais da inflação.
Só assim seria possível admitir alguma inflação, inevitável, mas suportável; temporária, mas não estopim de um cenário de espiral inflacionária, em que os custos sempre se
tornam maiores para os mais pobres.
Mais que nunca, o governo brasileiro precisa dar mostras de que não
pretende se amparar novamente na
muleta do imposto inflacionário.
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