São Paulo, Terça-feira, 09 de Fevereiro de 1999
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

IMPOSTO INFLACIONÁRIO

Analistas sugerem que parte do ajuste no déficit público virá, ainda que não de modo premeditado pelo governo, do imposto inflacionário.
Quanto maior a inflação, mais o mero adiamento de gastos públicos reduz o valor efetivamente desembolsado. Mas a arrecadação de impostos é protegida por regras de correção e multas aos contribuintes. A inflação corrói menos a receita que o gasto previsto no Orçamento.
Alguma inflação é inevitável após uma desvalorização cambial expressiva e, sem dúvida, ela cumpre esse papel perverso de facilitar o financiamento do déficit público. Mas se trata de ganho limitado e de alto risco.
Em primeiro lugar, quanto maior a inflação, menor se revelará também a desvalorização cambial em termos reais, ou seja, descontada a inflação. É que o aumento de preços "come" parte dos ganhos do ajuste cambial.
Se a inflação sobe demais e volta a percepção de que a desvalorização foi insuficiente, o câmbio pode ser de novo desvalorizado, provocando mais inflação e, assim, indefinidamente. Arma-se um círculo vicioso.
Ou seja, o fim da âncora cambial traz um risco de descontrole inflacionário. Se os mercados e a sociedade acreditarem que o governo é leniente no combate à inflação, aumentarão as pressões pela reindexação de contratos e salários.
Essa é mais uma razão para que o governo mostre sua disposição de aprofundar o ajuste fiscal e as privatizações. Quanto maior a confiança dos mercados na capacidade de o governo financiar seu desequilíbrio por meios diretos e transparentes, mais forte será a percepção de que o Estado não depende mais da inflação.
Só assim seria possível admitir alguma inflação, inevitável, mas suportável; temporária, mas não estopim de um cenário de espiral inflacionária, em que os custos sempre se tornam maiores para os mais pobres.
Mais que nunca, o governo brasileiro precisa dar mostras de que não pretende se amparar novamente na muleta do imposto inflacionário.


Texto Anterior: Editorial: CRISE, ULTIMATO E DIÁLOGO
Próximo Texto: Editorial: AS LIÇÕES DE UM REI
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Agência Folha.