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A maldição do Planalto
CLÓVIS ROSSI
São Paulo - O general João Figueiredo deixou o poder pedindo para ser
esquecido. Foi, piedosamente. José
Sarney saiu do Planalto com 80% de
ruim/péssimo nas pesquisas. Fernando Collor caiu antes do tempo sob o
estigma, mais que justo, de falta de
decoro, além de impopularidade similar à de seu antecessor.
Fernando Henrique Cardoso, a julgar pela mais recente pesquisa do Datafolha, embicou na trilha de todos os
seus antecessores mais recentes, excluído Itamar Franco, talvez o único
presidente na história que, em vez de
fazer o sucessor, foi feito por ele, conforme piadinha que se atribui ao embaixador dos EUA Melvyn Levitsky.
Cada um deles tem biografias diferentes, origens políticas e ideológicas
diferentes, seguiram políticas com algumas diferenças, pelo menos em determinados momentos (a moratória
de Sarney, o confisco de Collor, as privatizações em grande escala de FHC).
O que poderiam, então, ter em comum que os arraste para o abismo (se
é que FHC vai de fato cair nele, o que
ainda está por ver)?
Todos estiveram cercados pela mesma classe dirigente, se o leitor me perdoa o jargão. Gente que está com o
governo, seja qual for o governo, desde
as sesmarias.
Gente que não enriquece o governo
com propostas, idéias ou com críticas
que permitam correções de rumo em
tempo. Apenas agarram-se como sanguessugas ao corpo do governo, o qual,
aliás, abandonam correndo quando o
sangue já se exauriu (não foi assim
com Sarney e com Collor?).
Quem governa de fato é a tecnoburocracia, não sujeita à "accountability" indispensável (quem responde
pelos US$ 40 bilhões desperdiçados na
defesa do indefensável?).
Como sociólogo, FHC deveria ser o
primeiro a saber de tudo isso. Corre o
risco de deixar o governo pedindo não
apenas que esqueçam o que escreveu,
mas que se esqueçam dele próprio. Como Figueiredo.
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