São Paulo, Terça-feira, 09 de Fevereiro de 1999
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Como o diabo gosta

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Nada como voltar direto da Europa à rotina deste ano em Brasília: popularidade de Fernando Henrique Cardoso caindo, governadores de oposição em pé de guerra, Congresso às voltas com CPMF, valor do dólar incerto e não sabido... Sinto-me em casa.
Só não gosto das soluções políticas de que se fala por aí para os problemas domésticos: impeachment, renúncia, parlamentarismo. Vade retro!
Impeachment é a última instância quando se somam os grupelhos, a roubalheira, o descrédito, a falta de sustentação política e tem-se, como resultado, a ingovernabilidade. Quando, enfim, as coisas não têm mais jeito.
Foi assim com Fernando Collor, mas é um exagero no caso de Fernando Henrique Cardoso.
Renúncia? Quando o petista Tarso Genro a propôs, em artigo na Folha, não foram apenas os tucanos e governistas que se levantaram contra. A oposição também. O próprio PT, idem.
Agora, volta e meia vêm com essa de parlamentarismo. O sistema é bom, mas não uma espécie de elixir para tudo, na alegria ou na tristeza e independentemente do freguês.
Quando sonhava ser o melhor presidente da história da humanidade, quiçá do universo, FHC articulava um terceiro mandato camuflado pela mudança do sistema de governo.
Quando a política econômica dá com os burros n'água, o preço é duríssimo e o fim dessa história pode ser bem diferente, lá vem de novo o parlamentarismo. Já não é FHC o pai da idéia, mas tem tucano no meio.
Agora, mais uma. O respeitado cientista político Jorge Castañeda defende a volta do populismo da década de 50, a la Getúlio e Perón. E sugere que FHC enverede rapidamente por aí.
Ninguém quer dourar a pílula. A crise é grave. Seu desfecho é incerto. A conta a gente sabe quem paga. Mas as mágicas que se oferecem como saída são de um oportunismo gritante ou de uma arrogância só comparável à do próprio FHC nos tempos de glória.
Tudo isso só significa que há algo de podre, esquisito e perturbador nos dois lados: no governo, mas também na oposição.
E não é no reino da Dinamarca.


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