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Como o diabo gosta
ELIANE CANTANHÊDE
Brasília - Nada como voltar direto da
Europa à rotina deste ano em Brasília:
popularidade de Fernando Henrique
Cardoso caindo, governadores de oposição em pé de guerra, Congresso às
voltas com CPMF, valor do dólar incerto e não sabido... Sinto-me em casa.
Só não gosto das soluções políticas
de que se fala por aí para os problemas domésticos: impeachment, renúncia, parlamentarismo. Vade retro!
Impeachment é a última instância
quando se somam os grupelhos, a roubalheira, o descrédito, a falta de sustentação política e tem-se, como resultado, a ingovernabilidade. Quando,
enfim, as coisas não têm mais jeito.
Foi assim com Fernando Collor, mas
é um exagero no caso de Fernando
Henrique Cardoso.
Renúncia? Quando o petista Tarso
Genro a propôs, em artigo na Folha,
não foram apenas os tucanos e governistas que se levantaram contra. A
oposição também. O próprio PT, idem.
Agora, volta e meia vêm com essa de
parlamentarismo. O sistema é bom,
mas não uma espécie de elixir para tudo, na alegria ou na tristeza e independentemente do freguês.
Quando sonhava ser o melhor presidente da história da humanidade,
quiçá do universo, FHC articulava um
terceiro mandato camuflado pela mudança do sistema de governo.
Quando a política econômica dá
com os burros n'água, o preço é duríssimo e o fim dessa história pode ser
bem diferente, lá vem de novo o parlamentarismo. Já não é FHC o pai da
idéia, mas tem tucano no meio.
Agora, mais uma. O respeitado cientista político Jorge Castañeda defende
a volta do populismo da década de 50,
a la Getúlio e Perón. E sugere que FHC
enverede rapidamente por aí.
Ninguém quer dourar a pílula. A crise é grave. Seu desfecho é incerto. A
conta a gente sabe quem paga. Mas as
mágicas que se oferecem como saída
são de um oportunismo gritante ou de
uma arrogância só comparável à do
próprio FHC nos tempos de glória.
Tudo isso só significa que há algo de
podre, esquisito e perturbador nos
dois lados: no governo, mas também
na oposição.
E não é no reino da Dinamarca.
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