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São Paulo, domingo, 09 de março de 2003

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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES

Agricultura com modernização e novas áreas

Os dados do último censo revelam que as grandes cidades do Brasil já não têm mais condições de abrigar novos habitantes, razão pela qual eles estão se dirigindo às cidades de médio porte -entre 100 mil e 500 mil habitantes. Na década de 90, enquanto as capitais dos Estados receberam 5,3 milhões de pessoas, os municípios do interior acolheram 17,6 milhões.
São Paulo foi recordista. Ao longo dos anos 90, o interior ganhou cerca de 4,6 milhões de habitantes, enquanto a sua capital recebeu 788 mil novos moradores. Os municípios médios cresceram 3,1% ao ano -bem acima do crescimento do Estado de São Paulo (2,1%) e do Brasil (1,7%). A nova demografia mostra o esvaziamento do campo e o inchaço do interior.
Não é essa a tendência dos países desenvolvidos? De fato, os Estados Unidos e as nações da União Européia iniciaram uma reversão das metrópoles para o interior já no início dos anos 70. Ali surgiram localidades que ofereciam uma melhor qualidade de vida. Apesar de as atividades agropecuárias liberarem enormes contingentes de mão-de-obra por força da entrada de novas tecnologias, as pequenas e médias cidades tiveram um saudável desenvolvimento dos setores de serviços, comércio e até mesmo da indústria, que, por razões ecológicas, saíram das metrópoles.
No Brasil, o fenômeno é diferente. As médias cidades estão recebendo uma população que está muito acima da capacidade que essas cidades têm de criar a infra-estrutura material e social que possa abrigá-la dignamente.
O Brasil foi atacado pela febre de criação de municípios. Só na década de 90 foram implantados 1.070 novos municípios, que, no total, fizeram o Brasil saltar de 4.491 para 5.561.
Pura ação política. A maior parte desses municípios tem população de até 5.000 habitantes e não possui a menor capacidade arrecadatória, pois, na sua economia, não surgiram as atividades que pudessem gerar emprego, renda e receita pública. São prefeituras que, com raras exceções, se tornaram totalmente dependentes de repasses de recursos estaduais e federais e que mais criaram do que resolveram problemas.
Nessas condições, os pequenos municípios se transformaram em corredor de passagem em direção às médias cidades para uma população que, sendo expulsa do campo, precisa trabalhar em outros locais.
As cidades médias viraram "sanduíches" de problemas, engrossando ainda mais as mazelas do crime, da violência e da deterioração social das grandes cidades.
O ataque a essa questão é urgente. O Brasil precisa continuar com os investimentos em tecnologia agrícola (o que libera mão-de-obra), mas pode, simultaneamente, explorar novas áreas agrícolas para acomodar famílias que trabalham de forma simples, mas que geram empregos e alimentam seus filhos.
A solução dos graves problemas urbanos demanda menos politicagem para criar municípios e mais atenção às políticas de desenvolvimento regional.


Antônio Ermírio de Moraes escreve aos domingos nesta coluna.


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