|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
VERSÕES DO DESEMPREGO
Foi preciso que o IBGE registrasse em janeiro o mais alto índice de
desemprego desde 1984 para que o
governo federal reconhecesse, pelo
menos publicamente, a gravidade do
problema. O anúncio de uma reunião
para discutir propostas de cada ministério para estimular a criação de
postos de trabalho tem, no entanto,
um sabor demagógico.
O desemprego resulta fundamentalmente do baixo crescimento econômico. E isso não é novidade nem
surpresa. Estranha, isto sim, era a
versão oficial, que negava sistematicamente a gravidade da situação, como se a desaceleração da economia
não tivesse sido um objetivo explícito
da política econômica para fazer
frente à instabilidade externa.
Há apenas uma semana, o presidente Fernando Henrique Cardoso
afirmava em entrevista a uma TV a
cabo que em qualquer lugar do mundo as taxas de desemprego brasileiras seriam consideradas "de pleno
emprego", que " a sensação de desemprego é maior do que o próprio
desemprego". Pouco antes, na mensagem presidencial ao Congresso, de
16 de fevereiro, o presidente afirmava
que "as taxas de desemprego permanecem baixas".
No entanto, os indícios de queda do
ritmo de crescimento da economia
vêm de muitos meses. Várias pesquisas destacaram o desemprego como
a principal preocupação da população brasileira. E, mesmo nos índices
específicos, produzidos por diferentes instituições, essa piora já estava
claramente visível.
Medidas pontuais de estímulo ao
emprego são recomendáveis, evidentemente, e é meritório que o governo
se empenhe para implementá-las. Já
estão em vigor, aliás, o contrato de
trabalho por tempo determinado, e o
chamado "Simples", que desonera e
facilita a operação de micro e pequenas empresas. Uma verdadeira política de criação de empregos, entretanto, implica a retomada do crescimento. Mas isso aumentaria novamente os déficits externos que ameaçam o Real. Seria mais transparente
reconhecer que é esse o nó ao qual
está atado o desemprego.
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
|