São Paulo, segunda, 9 de março de 1998

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VERSÕES DO DESEMPREGO

Foi preciso que o IBGE registrasse em janeiro o mais alto índice de desemprego desde 1984 para que o governo federal reconhecesse, pelo menos publicamente, a gravidade do problema. O anúncio de uma reunião para discutir propostas de cada ministério para estimular a criação de postos de trabalho tem, no entanto, um sabor demagógico.
O desemprego resulta fundamentalmente do baixo crescimento econômico. E isso não é novidade nem surpresa. Estranha, isto sim, era a versão oficial, que negava sistematicamente a gravidade da situação, como se a desaceleração da economia não tivesse sido um objetivo explícito da política econômica para fazer frente à instabilidade externa.
Há apenas uma semana, o presidente Fernando Henrique Cardoso afirmava em entrevista a uma TV a cabo que em qualquer lugar do mundo as taxas de desemprego brasileiras seriam consideradas "de pleno emprego", que " a sensação de desemprego é maior do que o próprio desemprego". Pouco antes, na mensagem presidencial ao Congresso, de 16 de fevereiro, o presidente afirmava que "as taxas de desemprego permanecem baixas".
No entanto, os indícios de queda do ritmo de crescimento da economia vêm de muitos meses. Várias pesquisas destacaram o desemprego como a principal preocupação da população brasileira. E, mesmo nos índices específicos, produzidos por diferentes instituições, essa piora já estava claramente visível.
Medidas pontuais de estímulo ao emprego são recomendáveis, evidentemente, e é meritório que o governo se empenhe para implementá-las. Já estão em vigor, aliás, o contrato de trabalho por tempo determinado, e o chamado "Simples", que desonera e facilita a operação de micro e pequenas empresas. Uma verdadeira política de criação de empregos, entretanto, implica a retomada do crescimento. Mas isso aumentaria novamente os déficits externos que ameaçam o Real. Seria mais transparente reconhecer que é esse o nó ao qual está atado o desemprego.



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