São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

Próximo Texto | Índice

Editoriais

editoriais@uol.com.br

Gripe A no Brasil

Teste para autoridades começa agora; desafio é identificar e conter casos de transmissão de pessoa a pessoa no país

COMO ERA previsível, a gripe A (H1N1) teve sua presença no país confirmada. Numa época em que as viagens internacionais se tornaram lugar-comum, seria ilusório esperar que medidas de controle pudessem manter um vírus além das fronteiras nacionais. Bastou chegarem os kits específicos de diagnóstico para que se detectasse a presença do agente em seis brasileiros sob observação -cinco deles com viagens recentes ao exterior, três ao México e dois aos Estados Unidos.
Não por acaso, são as duas nações mais afetadas pela pandemia da nova gripe, com um total combinado de 2.843 casos. Persiste, no entanto, um aparente contraste entre os padrões assumidos pela doença nos dois países, apesar do número similar de afetados. Enquanto no México se registraram 44 mortes para 1.204 infecções documentadas, nos EUA houve apenas duas, em 1.639 ocorrências.
Especialistas levantam algumas hipóteses para explicar a discrepância. No país latino-americano é mais reduzida a capacidade de confirmar com rapidez, por meio de testes genéticos, os casos de infecção pelo A (H1N1). O número de infectados deve ser, portanto, várias vezes superior à cifra oficial -daí a letalidade aparentemente maior que a observada entre norte-americanos.
Outra realidade a contribuir para a maior proporção de mortes entre mexicanos diz respeito às deficiências no sistema de vigilância sanitária e assistência à saúde naquele país. Parte dos óbitos, assim, estaria ocorrendo por falta de medidas preventivas ou de cuidados aos doentes, numa população em média bem mais pobre e vulnerável que a dos EUA. Em maior ou menor grau, esses fatores estão presentes no Brasil -mais em algumas regiões do que em outras, mas ainda assim dando margem a alguma preocupação.
Entre infectologistas, contudo, não se verifica a percepção de que esta gripe tenha potencial para se converter em epidemia de efeitos significativos no país. Em primeiro lugar, porque tudo indica que a letalidade registrada nos EUA -similar à de vírus comuns de gripe que circulam todos os anos pelo mundo, inferior a 1%- seja mais representativa do comportamento real do A (H1N1). Depois, porque as autoridades de saúde no Brasil demonstraram até aqui dispor da capacidade técnica e institucional para enfrentar a emergência.
Isso não significa, decerto, que se deva baixar a guarda. O grande teste para a vigilância sanitária acaba de começar. Será crucial comprovar-se capaz também de identificar e conter os casos de transmissão da gripe de pessoa para pessoa em território nacional. Confirmou-se ontem que um dos seis infectados contraiu o vírus desse modo.
Da sociedade também se espera que mantenha a prontidão. Não há razão para alarme, mas muito fará observando cuidados simples como lavar as mãos com frequência -mesmo porque esse é um dos meios mais eficazes para prevenir a transmissão de qualquer gripe.


Próximo Texto: Editoriais: Lentidão e improviso

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.