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Gripe A no Brasil
Teste para autoridades começa agora; desafio é identificar e conter casos de transmissão de pessoa a pessoa no país
COMO ERA previsível, a gripe A (H1N1) teve sua
presença no país confirmada. Numa época em
que as viagens internacionais se
tornaram lugar-comum, seria
ilusório esperar que medidas de
controle pudessem manter um
vírus além das fronteiras nacionais. Bastou chegarem os kits específicos de diagnóstico para que
se detectasse a presença do agente em seis brasileiros sob observação -cinco deles com viagens
recentes ao exterior, três ao México e dois aos Estados Unidos.
Não por acaso, são as duas nações mais afetadas pela pandemia da nova gripe, com um total
combinado de 2.843 casos. Persiste, no entanto, um aparente
contraste entre os padrões assumidos pela doença nos dois países, apesar do número similar de
afetados. Enquanto no México se
registraram 44 mortes para
1.204 infecções documentadas,
nos EUA houve apenas duas, em
1.639 ocorrências.
Especialistas levantam algumas hipóteses para explicar a
discrepância. No país latino-americano é mais reduzida a capacidade de confirmar com rapidez, por meio de testes genéticos, os casos de infecção pelo
A (H1N1). O número de infectados deve ser, portanto, várias vezes superior à cifra oficial -daí a
letalidade aparentemente maior
que a observada entre norte-americanos.
Outra realidade a contribuir
para a maior proporção de mortes entre mexicanos diz respeito
às deficiências no sistema de vigilância sanitária e assistência à
saúde naquele país. Parte dos
óbitos, assim, estaria ocorrendo
por falta de medidas preventivas
ou de cuidados aos doentes, numa população em média bem
mais pobre e vulnerável que a
dos EUA. Em maior ou menor
grau, esses fatores estão presentes no Brasil -mais em algumas
regiões do que em outras, mas
ainda assim dando margem a alguma preocupação.
Entre infectologistas, contudo,
não se verifica a percepção de
que esta gripe tenha potencial
para se converter em epidemia
de efeitos significativos no país.
Em primeiro lugar, porque tudo
indica que a letalidade registrada
nos EUA -similar à de vírus comuns de gripe que circulam todos os anos pelo mundo, inferior
a 1%- seja mais representativa
do comportamento real do
A (H1N1). Depois, porque as autoridades de saúde no Brasil demonstraram até aqui dispor da
capacidade técnica e institucional para enfrentar a emergência.
Isso não significa, decerto, que
se deva baixar a guarda. O grande
teste para a vigilância sanitária
acaba de começar. Será crucial
comprovar-se capaz também de
identificar e conter os casos de
transmissão da gripe de pessoa
para pessoa em território nacional. Confirmou-se ontem que
um dos seis infectados contraiu o
vírus desse modo.
Da sociedade também se espera que mantenha a prontidão.
Não há razão para alarme, mas
muito fará observando cuidados
simples como lavar as mãos com
frequência -mesmo porque esse
é um dos meios mais eficazes para prevenir a transmissão de
qualquer gripe.
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