São Paulo, sábado, 09 de maio de 2009

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CLÓVIS ROSSI

Os zumbis e os vivos

SÃO PAULO - É curioso como passou sem muito alarde o resultado do chamado teste de estresse a que foram submetidos os 19 maiores bancos norte-americanos. A bem da verdade, o resultado foi até festejado, embora mais da metade deles (10) não tenha sido exatamente aprovada.
Terão de levantar cerca de US$ 75 bilhões em dinheiro novo para deixarem de ficar estressados. Nessa era em que o socorro governamental a bancos e outras empresas supera o trilhão, parece pouco, mas equivale, grosso modo, a 5% da produção anual brasileira. Não por acaso, o "Financial Times" de ontem lembra que, a longo prazo, "com um buraco de cerca de US$ 3 trilhões no balanço do sistema financeiro dos EUA, a era dos bancos americanos zumbis pode ter começado".
Motivo suficiente, diz o jornal, para "dar uma brecada naqueles que estão abraçando o novo espírito de otimismo".
Já, no Brasil, os bancos não precisaram passar por teste de estresse. São dados como perfeitamente sadios. Aliás, sadios e vivos demais, como prova a campanha para o governo tomar alguma medida para reduzir a atratividade da poupança e, com isso, evitar que investidores de calibre médio e grosso migrem de outros investimentos para o mais popular deles.
Quando as coisas estão tranquilas, a pregação dos banqueiros e de seus alto-falantes na mídia é sempre a mesma: o governo não deve se meter nos negócios, deve reduzir os impostos e suas despesas, especialmente as de custeio. Na hora em que pinta um estressezinho (com a poupança), pedem a mão pesada do governo e nem lhes passa pela cabeça cortar o equivalente a suas despesas de custeio, como seja a taxa de administração que cobram para investimentos fora poupança.
Por aqui, portanto, só há vivos, não há zumbis.

crossi@uol.com.br


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