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CLÓVIS ROSSI
Os zumbis e os vivos
SÃO PAULO - É curioso como passou sem muito alarde o resultado
do chamado teste de estresse a que
foram submetidos os 19 maiores
bancos norte-americanos. A bem
da verdade, o resultado foi até festejado, embora mais da metade deles
(10) não tenha sido exatamente
aprovada.
Terão de levantar cerca de US$
75 bilhões em dinheiro novo para
deixarem de ficar estressados. Nessa era em que o socorro governamental a bancos e outras empresas
supera o trilhão, parece pouco, mas
equivale, grosso modo, a 5% da produção anual brasileira.
Não por acaso, o "Financial Times" de ontem lembra que, a longo
prazo, "com um buraco de cerca de
US$ 3 trilhões no balanço do sistema financeiro dos EUA, a era dos
bancos americanos zumbis pode
ter começado".
Motivo suficiente, diz o jornal,
para "dar uma brecada naqueles
que estão abraçando o novo espírito
de otimismo".
Já, no Brasil, os bancos não precisaram passar por teste de estresse.
São dados como perfeitamente sadios. Aliás, sadios e vivos demais,
como prova a campanha para o governo tomar alguma medida para
reduzir a atratividade da poupança
e, com isso, evitar que investidores
de calibre médio e grosso migrem
de outros investimentos para o
mais popular deles.
Quando as coisas estão tranquilas, a pregação dos banqueiros e de
seus alto-falantes na mídia é sempre a mesma: o governo não deve se
meter nos negócios, deve reduzir os
impostos e suas despesas, especialmente as de custeio.
Na hora em que pinta um estressezinho (com a poupança), pedem a
mão pesada do governo e nem lhes
passa pela cabeça cortar o equivalente a suas despesas de custeio, como seja a taxa de administração que
cobram para investimentos fora
poupança.
Por aqui, portanto, só há vivos,
não há zumbis.
crossi@uol.com.br
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