São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2001

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VINICIUS TORRES FREIRE

Não bulir nos juros

SÃO PAULO - Se mexer, piora. Não
há muito o que fazer para nos tirar da quinta tormenta econômica dos anos FHC. Crocodilos do mercado estão com as goelas abertas, à espera de um aumento de juros, assim como economistas de cartilha, mais à boca pequena. É gente que leva as "metas de inflação ao pé da letra demais", na curiosa e algo espantosa declaração de Sérgio Werlang na Folha de ontem, Werlang, ex-diretor do Banco Central e economista sério, que durante meses conviveu no BC ao lado de muita gente que era exatamente assim, obsessivo-compulsiva com inflação e juros.
Não há muito o que fazer com a crise porque em parte ela não depende de nós, o mundo quase todo cresce pouco, a Argentina está na lama e nos contagia. Não há enfim muito o que fazer porque o país ficou ainda mais débil e indefeso devido ao legado do governo de Fernando Henrique Cardoso, que não pagou a conta da luz e deixou seu ministro da Fazenda aumentar irresponsavelmente dívidas e déficits nacionais.
Apesar disso, debate-se com fúria se o BC deve ou não aumentar os juros a fim de controlar dólar e inflação.
Um choque de juros vai apenas aumentar a dívida pública e gangrenar o crescimento e o gasto público em 2002, 2003, sabe-se lá até quando.
Uma alta do dólar ainda maior tende a gerar seu equilíbrio -melhora o saldo no comércio exterior, por exemplo. Pode ser uma febre ruim, mas tende a passar (claro que compressas frias -uma venda de título cambial aqui, uma intervenção ali- ajudam). Assim a inflação vai estourar a meta? Vai, sim, um pouco. E daí? De resto, o sistema de metas de inflação precisa de um corretivo.
Chupins do mercado e porta-vozes estão crentes de que ainda há gente obtusa e kamikaze o suficiente no BC para enterrar o país em recessão a fim de salvar meio ponto na taxa de inflação de 2002 (a desse ano já era), a fim de enquadrar o país a ferro e fogo na camisa-de-força de um sistema de metas de inflação mal definido. Estarão certos, os chupins?


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