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VINICIUS TORRES FREIRE
Não bulir nos juros
SÃO PAULO - Se mexer, piora. Não
há muito o que fazer para nos tirar
da quinta tormenta econômica dos
anos FHC. Crocodilos do mercado estão com as goelas abertas, à espera de
um aumento de juros, assim como
economistas de cartilha, mais à boca
pequena. É gente que leva as "metas
de inflação ao pé da letra demais", na
curiosa e algo espantosa declaração
de Sérgio Werlang na Folha de ontem, Werlang, ex-diretor do Banco
Central e economista sério, que durante meses conviveu no BC ao lado
de muita gente que era exatamente
assim, obsessivo-compulsiva com inflação e juros.
Não há muito o que fazer com a crise porque em parte ela não depende
de nós, o mundo quase todo cresce
pouco, a Argentina está na lama e
nos contagia. Não há enfim muito o
que fazer porque o país ficou ainda
mais débil e indefeso devido ao legado do governo de Fernando Henrique Cardoso, que não pagou a conta
da luz e deixou seu ministro da Fazenda aumentar irresponsavelmente
dívidas e déficits nacionais.
Apesar disso, debate-se com fúria se
o BC deve ou não aumentar os juros
a fim de controlar dólar e inflação.
Um choque de juros vai apenas aumentar a dívida pública e gangrenar
o crescimento e o gasto público em
2002, 2003, sabe-se lá até quando.
Uma alta do dólar ainda maior
tende a gerar seu equilíbrio -melhora o saldo no comércio exterior, por
exemplo. Pode ser uma febre ruim,
mas tende a passar (claro que compressas frias -uma venda de título
cambial aqui, uma intervenção ali-
ajudam). Assim a inflação vai estourar a meta? Vai, sim, um pouco. E
daí? De resto, o sistema de metas de
inflação precisa de um corretivo.
Chupins do mercado e porta-vozes
estão crentes de que ainda há gente
obtusa e kamikaze o suficiente no BC
para enterrar o país em recessão a
fim de salvar meio ponto na taxa de
inflação de 2002 (a desse ano já era),
a fim de enquadrar o país a ferro e fogo na camisa-de-força de um sistema
de metas de inflação mal definido.
Estarão certos, os chupins?
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