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PLANO ESQUECIDO
A celeuma em torno das mudanças nas regras de tombamento para permitir à Faap (Fundação Armando Álvares Penteado) ampliar seu campus é, mais do que um
problema urbanístico da capital paulista, sintoma de grave enfermidade
que afeta algumas das grandes cidades brasileiras: o crescimento desordenado associado ao abandono.
Não é de hoje que metrópoles brasileiras são regidas pela política do
fato consumado. Proprietários dão a
seus imóveis a destinação que bem
entendem, seus vizinhos os imitam
e, um belo dia, o que era uma zona
residencial tornou-se inapelavelmente comercial. Isso, obviamente,
só é possível porque leis de zoneamento, quando existem, são quase
peças de ficção.
Agora, com o caso Faap, verifica-se
que até mesmo o tombamento, que
parecia ser a única forma realmente
segura de preservação de um imóvel
e, por extensão, da memória da cidade, pode ser revertido ao sabor dos
interesses do proprietário.
Desafio ainda mais difícil é o de explicar as razões por que existem em
São Paulo três diferentes órgãos públicos com poderes para tombar, um
municipal, um estadual e um federal.
Cada um deles, evidentemente, funciona sob critérios próprios.
São tamanhos o descaso e a incúria
a que a cidade vem sendo submetida
já há tantos anos que o otimista pode
regozijar-se com o fato de o espaço
urbano não ser ainda mais caótico.
Embora até cidades urbanisticamente bem resolvidas, como Paris ou Viena, enfrentem percalços vez ou outra, em São Paulo as dificuldades se
tornaram a regra.
São Paulo, é óbvio, nunca será Paris, mas, para oferecer um pouco
mais de qualidade de vida aos munícipes, precisa fazer a "lição de casa",
o que significa elaborar e aprovar um
Plano Diretor consistente, bem como toda a legislação dele derivada.
Essa deveria ser a principal discussão
municipal. Mas, lamentavelmente,
vem sendo postergada pela atual administração petista.
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