São Paulo, segunda-feira, 09 de julho de 2001

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CARLOS HEITOR CONY

Dias contados

LISBOA - Em "Tempos Modernos", Chaplin criou uma fábrica onde o gerente fiscaliza os operários até dentro dos banheiros. Em "1984", George Orwell foi mais radical. Todos teremos um chip em algum lugar de nosso organismo e poderemos ser detectados por uma gigantesca central que tomará conta de tudo o que fizermos ou deixarmos de fazer.
Parece que esse tempo sombrio está longe, mas os sinais de que se aproximam estão aí. Os grampos telefônicos, os pardais no trânsito que fotografam os carros em determinados cruzamentos e os aparelhos de vídeo colocados nos supermercados e em locais de aglomeração não deixam de ser anúncios de uma era em que seremos robotizados física e mentalmente.
Alguns documentos, como o CPF, o passaporte (que, apesar de antigo, é de uso relativamente novo), os computadores da Receita Federal, da Polícia, das companhias de seguros e dos bancos, tudo isso, somado e anexado, produzirá a central, o "Big Brother" que nos vigiará dia e noite.
Da mesma forma que o Estado obriga a vacinação aos que nascem, em breve obrigará o enxerto de um modem subcutâneo em cada bebê. Mais alguns anos, e todos seremos rastreados eletronicamente. Estaremos on-line.
Com mão e contramão. Seremos obrigados a fazer as coisas que a central determinará. E a não fazer coisas que a programação central nos proibirá.
Penso nisso tudo quando sei que alguém foi grampeado telefonicamente. É ainda um recurso primário, grosseiro, de fiscalização e controle de nossa privacidade. Creio que todos, de alguma forma, estamos sendo grampeados, por isso ou aquilo.
Maridos grampearão as esposas e vice-versa. Amigos e inimigos saberão de tudo e todos ficaremos sem privacidade. Por falar nisso, o que estou fazendo em Portugal?



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