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BORIS FAUSTO
Política paulista
Até que ponto a política paulista
tem, historicamente e nos dias
que correm, características diversas
das de outros Estados da Federação?
O tema, quando mais não fosse, serve para recordar que o feriado de hoje
em São Paulo não serve apenas para
economizar energia e para fugir da
poluição que envenena os outrora belos dias do inverno paulistano. Como
talvez pouca gente lembre, 9 de julho
de 1932 marca o início da "guerra paulista" contra o governo provisório de
Getúlio Vargas.
Ao propor a adoção no país de um
regime político corporativo, em substituição à democracia representativa,
Oliveira Viana -brilhante sociólogo
e contumaz autoritário- temperava
a proposta com certo ceticismo, tendo
em vista a inarticulação do país. Ressalvava, porém, o caso de São Paulo,
dada a maturidade de suas "classes
econômicas".
Curiosamente, décadas depois, com
propósitos opostos, o sociólogo -Simon Schwartzman- , no livro "Bases
do Autoritarismo Brasileiro" (1982),
publicado antes com o título de "São
Paulo e o Estado Nacional", localizou
uma tradição liberal e maiores possibilidades de afirmação democrática,
em função do espetacular crescimento econômico e da formação de classes
sociais com contornos definidos.
Teria sentido falar de uma especificidade política paulista, nas últimas décadas, reforçando as linhas traçadas
pelos sociólogos citados e outros
mais? Sem estabelecer uma escala
comparativa de superioridade com
outras unidades da Federação e sem
ignorar as muitas mazelas políticas de
São Paulo, que saltam aos olhos, a resposta afirmativa faz sentido.
Em meio aos percalços, às linhas tortas marcadas pela corrupção, um cenário de maior consistência ideológica vem se firmando no Estado, aproximando-o, sob esse aspecto, do Rio
Grande do Sul, guardadas as diferenças. O arco político paulista consolidou-se em uma tendência de direita,
com um conteúdo populista e autoritário, em uma de centro, com inclinações à esquerda, e em uma tendência
de esquerda com vários matizes, desde os mais radicais até os que se aproximam do centro.
O quadro político paulista é um bom
exemplo da validade das noções de direita e de esquerda. Seus conteúdos
mudaram com relação ao passado,
mas nem por isso deixaram de existir,
como a direita, significativamente, insiste em negar. Não é preciso muito
esforço para demonstrar o que estou
afirmando. Basta lembrar o conteúdo
das disputas eleitorais para a Prefeitura de São Paulo e para o governo do
Estado nos últimos anos e o quadro
que se desenha para as eleições do ano
que vem.
São Paulo não é, entretanto, um caso
à parte na realidade política nacional.
Seus traços específicos fazem parte de
um país integrado, mas com visíveis
marcas regionais. Seja como for, uma
guerra de um Estado contra o governo
central, como ocorreu em 1932, não
caberia aparentemente na cabeça de
ninguém. Só aparentemente, porque,
afinal de contas, um governador vizinho dos paulistas desenvolveu essa
fantasia para mal de seu Estado e do
país.
Boris Fausto escreve às segundas-feiras nesta
coluna.
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