São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

CLÓVIS ROSSI

Moratória e má-fé

SÃO PAULO - O "Painel S.A." desta Folha publicou ontem cenas explícitas de má-fé nas análises sobre a moratória. Engoliu distraidamente números distorcidos jogados por Luis Eduardo Assis, hoje diretor-superintendente do HSBC Investment Bank, mas, no passado, membro da equipe econômica de Zélia Cardoso de Mello no governo Fernando Collor, uma e outro de triste memória.
Para demonstrar que o calote argentino teve alto custo, diz Assis:
"O colapso elevou a taxa de desemprego a 22% em meados de 2002 e, entre 1998 e 2002, a renda per capita caiu, coincidentemente, 22%. Um desastre que nunca vimos".
Só esqueceu de mencionar que, tanto na queda da renda como no desemprego, o desastre se deu ANTES da moratória, decretada em dezembro de 2001.
A preços constantes, a economia argentina retrocedeu 18,35% de 1998 a 2002, mas, desse total, a maior parte (13,65%) ocorreu até dezembro de 2001, ANTES da moratória.
O caso do desemprego é parecido: a desocupação já chegara a 18,3% da força de trabalho em outubro de 2001, ANTES da moratória. Depois, de fato, subiu um pouco mais para atingir 21,5% em maio de 2002. Mas foi conseqüência muito menos do calote e muito mais da profunda desorganização da economia causada pela saída do câmbio fixo, este, sim, o responsável pelo desastre.
Que a moratória tem custos, nem é preciso dizer. Toda política econômica tem custos. Basta ver que o Real, se reduziu a inflação a níveis mais ou menos civilizados, produziu anêmico crescimento, conforme todas as análises sérias publicadas no seu recente 10º aniversário.
Se eu fosse seguir a má-fé do raciocínio de Assis, diria o seguinte: a moratória reduz o desemprego, porque, antes dela, era de 18,3% e, hoje, ainda em moratória, é 14,4%.
Diria também que moratória faz bem à economia: a Argentina cresceu 10,5% no primeiro trimestre de 2004, com o que a atividade econômica retornou aos níveis anteriores à desvalorização e à moratória.


Texto Anterior: Editoriais: VIOLÊNCIA ESTUDANTIL

Próximo Texto: Brasília - Eliane Cantanhêde: O ano acabou
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.