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CLÓVIS ROSSI
Moratória e má-fé
SÃO PAULO - O "Painel S.A." desta Folha publicou ontem cenas explícitas de má-fé nas análises sobre a moratória. Engoliu distraidamente números distorcidos jogados por Luis
Eduardo Assis, hoje diretor-superintendente do HSBC Investment Bank,
mas, no passado, membro da equipe
econômica de Zélia Cardoso de Mello
no governo Fernando Collor, uma e
outro de triste memória.
Para demonstrar que o calote argentino teve alto custo, diz Assis:
"O colapso elevou a taxa de desemprego a 22% em meados de 2002 e,
entre 1998 e 2002, a renda per capita
caiu, coincidentemente, 22%. Um desastre que nunca vimos".
Só esqueceu de mencionar que, tanto na queda da renda como no desemprego, o desastre se deu ANTES
da moratória, decretada em dezembro de 2001.
A preços constantes, a economia argentina retrocedeu 18,35% de 1998 a
2002, mas, desse total, a maior parte
(13,65%) ocorreu até dezembro de
2001, ANTES da moratória.
O caso do desemprego é parecido: a
desocupação já chegara a 18,3% da
força de trabalho em outubro de
2001, ANTES da moratória. Depois,
de fato, subiu um pouco mais para
atingir 21,5% em maio de 2002. Mas
foi conseqüência muito menos do calote e muito mais da profunda desorganização da economia causada pela
saída do câmbio fixo, este, sim, o responsável pelo desastre.
Que a moratória tem custos, nem é
preciso dizer. Toda política econômica tem custos. Basta ver que o Real, se
reduziu a inflação a níveis mais ou
menos civilizados, produziu anêmico
crescimento, conforme todas as análises sérias publicadas no seu recente
10º aniversário.
Se eu fosse seguir a má-fé do raciocínio de Assis, diria o seguinte: a moratória reduz o desemprego, porque,
antes dela, era de 18,3% e, hoje, ainda
em moratória, é 14,4%.
Diria também que moratória faz
bem à economia: a Argentina cresceu
10,5% no primeiro trimestre de 2004,
com o que a atividade econômica retornou aos níveis anteriores à desvalorização e à moratória.
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