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ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES
Promessas de Doha!
NÃO É A PRIMEIRA vez que
combato o deslavado protecionismo das nações ricas
contra as nações pobres. Num dos
artigos publicados nesta coluna,
em 22/6/2003, relatei o caso dos
produtores franceses, que, todas as
tardes, lá pelas três e meia, abrem
sua garrafa de vinho, cortam um
pedaço de queijo, sentam-se na varanda de suas fazendas e apreciam
suas terras e seu gado. Jantam às
cinco e meia, ligam a televisão para
ver o noticiário e, finalmente, entregam-se ao "merecido descanso"
após um "puxado" dia de trabalho.
Às sextas-feiras, eles param de
trabalhar às 11 horas. Às quartas,
trabalham só de manhã, porque, à
tarde, vão à reunião do seu sindicato, onde formulam os pedidos de
ajuda governamental para si e para
os demais fazendeiros. Tais agricultores têm de 50% a 85% da sua
renda garantida por subsídios da
União Européia.
O "European Global Business"
de 9 de junho de 2003 publicou
uma provocante fotomontagem
com dezenas de vacas pastando no
belíssimo gramado da torre Eiffel
com o seguinte título: "Na França,
a vaca é sagrada".
O pior é que uma parte expressiva dos subsídios vai para fazendeiros que pouco produzem. E o governo não incentiva a produção. De
fato, os franceses preferem abastecer o mercado interno com café,
açúcar e suco importados do Brasil
com enorme sobretaxa! Aliás, os
americanos fazem o mesmo.
Os subsídios distorcem o comércio internacional, dão prêmios para quem não trabalha e castigam os
que produzem com afinco e qualidade. O Brasil é uma das vítimas
dessa guerra injusta. Nossa agricultura deu vários saltos de qualidade. A produtividade é alta para a
maioria dos produtos. O trabalho é
feito de sol a sol. Em muitos casos,
colhemos duas safras por ano. E,
no final, somos forçados a pagar o
ócio dos milhões de produtores
que cultivam a "dolce vita" no
mundo desenvolvido.
Escrevo isso não por querer revidar nossa derrota para a França na
Copa do Mundo, mas por ver que,
mais uma vez, a União Européia
provocou um impasse na reunião
da OMC realizada em Genebra na
semana passada.
Das promessas feitas em Doha
em 2001, ninguém cedeu nada. A
reunião foi suspensa um dia antes
do previsto com a promessa de
Pascal Lamy, diretor da OMC, de
retomá-la no fim deste mês para
tentar um consenso.
Será que ele vai convencer os
produtores franceses a trabalhar
mais e a depender menos das proteções do Estado? Vamos torcer
para que isso aconteça.
antonio.ermirio@antonioermirio.com.br
ANTÔNIO ERMÍRIO DE MORAES escreve aos
domingos nesta coluna.
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