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ANTÔNIO GOIS
Apelo ao bom senso
RIO DE JANEIRO - O debate sobre a lei de cotas e do estatuto da
igualdade racial corre o risco de ficar polarizado em dois extremos
que não levarão a nada.
Do lado dos partidários das ações
afirmativas, percebe-se, em alguns
grupos, um perigoso radicalismo
que reduz a questão a um embate
entre os defensores dos negros e
uma elite branca e racista que não
quer perder seus privilégios e que,
por isso, se opõe às mudanças.
O estabelecimento de critérios
oficiais de definição de raça pelo
Estado altera a estrutura da sociedade brasileira de forma radical. É
legítimo e fundamentado o temor,
por parte de alguns intelectuais, de
que isso atrapalhe mais do que ajude no processo de construção de
uma verdadeira democracia racial.
Do lado dos que atacam as ações
afirmativas, no entanto, também há
um discurso simplista que tenta
desqualificar os defensores do projeto. O argumento mais usado é de
que estes não entendem que o mais
importante é investir no ensino básico de qualidade como forma de
acabar com as desigualdades.
O investimento na base é óbvio e
urgente, e deve ser feito com ou sem
cotas. Ninguém está propondo
ações afirmativas em vez de um
ensino público de qualidade. Não é
essa a discussão.
O risco que corremos, neste caso,
é repetir na educação a tese de que é
preciso esperar o bolo crescer para
reparti-lo. E se o bolo da educação
não crescer, como tem sido regra na
nossa história? O que diremos daqui a 20 anos a esta população que,
justamente, cobra igualdade de
oportunidades?
Tomo livremente emprestada do
pesquisador Creso Franco, da PUC
do Rio, a seguinte frase: "A segunda
pior solução possível para esse problema são as cotas. A pior é não fazer nada".
agois@folhasp.com.br
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