São Paulo, domingo, 09 de julho de 2006

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ANTÔNIO GOIS

Apelo ao bom senso

RIO DE JANEIRO - O debate sobre a lei de cotas e do estatuto da igualdade racial corre o risco de ficar polarizado em dois extremos que não levarão a nada. Do lado dos partidários das ações afirmativas, percebe-se, em alguns grupos, um perigoso radicalismo que reduz a questão a um embate entre os defensores dos negros e uma elite branca e racista que não quer perder seus privilégios e que, por isso, se opõe às mudanças.
O estabelecimento de critérios oficiais de definição de raça pelo Estado altera a estrutura da sociedade brasileira de forma radical. É legítimo e fundamentado o temor, por parte de alguns intelectuais, de que isso atrapalhe mais do que ajude no processo de construção de uma verdadeira democracia racial.
Do lado dos que atacam as ações afirmativas, no entanto, também há um discurso simplista que tenta desqualificar os defensores do projeto. O argumento mais usado é de que estes não entendem que o mais importante é investir no ensino básico de qualidade como forma de acabar com as desigualdades.
O investimento na base é óbvio e urgente, e deve ser feito com ou sem cotas. Ninguém está propondo ações afirmativas em vez de um ensino público de qualidade. Não é essa a discussão.
O risco que corremos, neste caso, é repetir na educação a tese de que é preciso esperar o bolo crescer para reparti-lo. E se o bolo da educação não crescer, como tem sido regra na nossa história? O que diremos daqui a 20 anos a esta população que, justamente, cobra igualdade de oportunidades?
Tomo livremente emprestada do pesquisador Creso Franco, da PUC do Rio, a seguinte frase: "A segunda pior solução possível para esse problema são as cotas. A pior é não fazer nada".


agois@folhasp.com.br

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