São Paulo, sexta-feira, 09 de julho de 2010

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Sem perspectiva

Encontro entre Obama e Netanyahu não deve alterar estratégia de Israel, que não vê interlocutor confiável e prefere administrar a crise

A reunião de cúpula entre o presidente dos EUA, Barack Obama, e o premiê de Israel, Binyamin Netanyahu, foi o que os norte-americanos chamam de "photo op" ("photo opportunity"), ou seja, uma ocasião para políticos aparecerem diante das câmeras sob luz favorável. Tanto os EUA como Israel têm interesse em apagar a imagem de fricção entre os dois Estados, que, apesar das crescentes diferenças, seguem parceiros numa aliança estratégica.
De mais a mais, o encontro também representa uma boa chance para Obama, que enfrenta delicadas eleições legislativas neste ano, faturar alguns pontos no influente eleitorado judeu.
Já para Netanyahu, que governa com um gabinete dividido, sempre à beira da cisão, é importante mostrar que continua a contar com o apoio de Washington.
O fato, contudo, é que a aliança EUA-Israel, apesar de ainda sólida, já deixou de ser inquestionável. Os americanos começam, ainda que timidamente, a se perguntar se vale a pena proteger o Estado judeu de forma quase incondicional. A proximidade tem um custo para Washington. Suas políticas para o Oriente Médio são recebidas com desconfiança pelos países islâmicos, tanto os aliados quanto os inimigos.
Desde 2000, com o colapso das conversações de paz em Camp David, a situação vem se deteriorando lenta, mas resolutamente. A sociedade israelense decidiu que não há, do lado palestino, interlocutores confiáveis e desistiu de engajar-se seriamente em esforços de entendimento.
Vez por outra, quando pressionado por Washington, o premiê de plantão fala, como agora, em retomar as negociações, mas apenas para voltar a congelá-las na primeira oportunidade.
Numa única ocasião, sob o governo de Ariel Sharon, a maioria dos israelenses acreditou que a retirada unilateral de Gaza poderia ser o começo de uma solução. Hoje, porém, a iniciativa é vista como um desastre. A saída dos soldados permitiu ao grupo extremista Hamas assumir o território, do qual lança saraivadas de foguetes contra cidades israelenses.
Israel hoje deixa o tempo passar. Administra a crise. Parece crer que, um dia, o inimigo irá cansar-se e negociar. Do lado palestino, as perspectivas são sombrias. O tão prometido Estado jamais chegou. O que veio foi uma espécie de guerra civil de baixa intensidade entre o Hamas e o Fatah (o partido laico fundado por Iasser Arafat), que acabou expulso de Gaza.
A estratégia do Hamas nesse meio tempo tem sido a de utilizar a mais efetiva das armas à sua disposição, a propaganda. Os mais de 40 anos de ocupação pesam contra Israel. Respondendo às provocações, tanto as reais como as imaginadas, os israelenses, de tempos em tempos, acabam cometendo um erro grave que resulta em muitas mortes de civis. O lamentável caso da flotilha turca foi o exemplo mais recente.
É difícil dizer quem perde mais com a situação. É fato que Israel está levando a pior na guerra da mídia. Mas, nesse meio tempo, os palestinos estão deixando de ter a oportunidade de converter-se num país de verdade, com direito a paz e desenvolvimento.


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