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São Paulo, sábado, 09 de agosto de 2003

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LUCIANO MENDES DE ALMEIDA

Educar para a solidariedade

Tendências marcantes caracterizam nosso tempo. Como nos situarmos diante dessa realidade? Deixar acontecer o entrechoque de valores e contravalores ou buscar metas condizentes com a dignidade da pessoa e com a convivência solidária?
Eis a missão dos educadores: constatar a situação, discernir metas e contribuir para a busca da verdade, para o reto uso da liberdade e para a criação de condições dignas de vida para a humanidade. Não podemos perder o horizonte de transcendência, isto é, a certeza de alcançarmos a tão almejada felicidade para além da vida terrena. Na perspectiva da revelação de Jesus Cristo, somos chamados à remissão dos pecados, à conversão e à promessa de comunhão entre nós e com a vida trinitária. Para todos, no entanto, permanece o desafio da vida terrena, que deveria preparar-nos para o encontro feliz e definitivo na Casa do Pai, superando faltas, divisões e discriminações.
É necessário, portanto, encontrar caminhos de convivência solidária.
Entre as características do início do século, nós nos deparamos com o crescimento enorme da população terrestre (6 bilhões de habitantes), que está em constante mobilidade. Isso acarreta o entrelaçamento das culturas e traz como consequência a necessidade de aprendermos a conviver no pluralismo, respeitando a lentidão com a qual muitos se aproximam da verdade.
Do ponto de vista social e econômico, é notadamente injusta a distribuição de recursos e de riquezas, o que causa crescente exclusão social, fruto da globalização inadequada. O vício não está no incentivo à produção, mas na injustiça da distribuição. Temos, assim, de nos educar para a partilha fraterna e encontrar processos rápidos e pacíficos para assegurar a todos o indispensável à vida digna e ao desenvolvimento sustentável.
Que dizer dos conflitos, das guerras e dos assaltos? A única resposta coerente contra a violência, hoje tão difusa, é a abertura ao perdão, que exige uma profunda mudança de mentalidade e o auxílio divino. A prática da moral deixa muito a desejar. Os princípios universais são relativizados. Há quem aceite o aborto, a eutanásia e a manipulação da vida humana sem nenhum critério. O tráfico e o uso da droga prejudicam sempre mais a juventude. A família tem sido muito atingida pelos meios de comunicação social e pela permissividade moral, com terríveis consequências para os filhos -que perdem a estabilidade do lar e, em muitos casos, vivem abandonados.
Quanto à política, temos de aperfeiçoar a democracia, vencendo a atração pelo poder e a conivência com a corrupção. Na política internacional, os governos mais ricos dominam pela força do dinheiro e das armas.
Na perspectiva religiosa, o caminho consiste em nos abrirmos ao diálogo inter-religioso, evitando o sincretismo e apresentando os próprios valores com convicção e transparência. Percebemos, assim, que, além das iniciativas válidas e urgentes para assegurar trabalho e alimento à população, se torna indispensável um empenho coletivo para reeducar a pessoa e a sociedade, de modo a não repetirmos os erros dos atuais sistemas, que geraram séculos de acumulação doentia de bens e a busca desenfreada pelo prazer e pelo poder.
Como ajudar as novas gerações a discernir o que é certo e promover as bases de uma sociedade solidária? A verdade e o bem têm seu próprio fascínio, que há de superar os pseudovalores e atrair a humanidade para realizar o projeto divino da reconciliação e da concórdia.


Dom Luciano Mendes de Almeida escreve aos sábados nesta coluna.


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