São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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EDITORIAIS

SAINDO DO EIXO

Incluída pelo presidente George W. Bush no que ele acredita ser o eixo do mal, a Coréia do Norte é, numa descrição mais precisa, a mais fechada ditadura comunista remanescente no planeta. A situação econômica do país, contudo, é tão desesperadora -segundo alguns cálculos, 2 milhões de norte-coreanos (cerca de 10% da população) morreram de causas relacionadas à desnutrição entre 1995 e 1998- que Pyongyang ensaia alguma abertura.
Este mês de setembro promete ser crucial para testar as reais intenções do líder Kim Jong-Il. No dia 17, a Coréia do Norte deve receber a inédita visita de Junichiro Koizumi, o primeiro-ministro do Japão. Os dois países não mantêm relações diplomáticas, e Pyongyang exige de Tóquio uma indenização de US$ 10 bilhões pelo período em que tropas japonesas ocuparam a península coreana no século passado.
Mais importante que essa visita para "quebrar o gelo" do premiê japonês é o plano das autoridades norte-coreanas de religar a linha férrea que une o país à Coréia do Sul, fechada desde 1953. De início, a ferrovia servirá para levar ao Norte 400 mil toneladas de arroz fornecidas pelo Sul. Mas a ferrovia poderá, no futuro, servir para escoar a produção agrícola da Coréia do Norte.
Kim Jong-Il, depois de conversas com líderes chineses, anunciou em julho uma nova "política agrícola", que permitirá a fazendeiros vender pequenos excedentes de produção. Por fim, no dia 29, a Coréia do Norte deverá participar, pela primeira vez, dos Jogos Olímpicos Asiáticos, que ocorrem na Coréia do Sul. Trata-se de pequeno, mas não desprezível, passo rumo a nova inserção mundial.
A Coréia do Norte, movida pela necessidade, já vinha ensaiando uma lenta abertura. O 11 de setembro, porém, e a dura reação norte-americana que se seguiu frustraram esses esforços. Resta esperar que Bush resista ao ímpeto de "acabar com o mal no planeta" e permita que a Coréia do Norte encontre seu caminho.


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