São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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VINICIUS TORRES FREIRE

11 de setembro foi ontem

SÃO PAULO - Balanços históricos sempre me lembram a velha piada sobre o senso de perspectiva histórica da antiquíssima civilização chinesa. Perguntaram uma vez a Mao Tse-tung o que ele pensava da Revolução Francesa. O ditador comunista chinês respondeu que havia se passado pouco tempo (mais de um século e meio), que era cedo para avaliá-la.
Jornalistas e chineses -ou pelo menos jornalistas e Mao Tse-tung- observam a história de maneira inversa. Minutos depois de qualquer acontecimento, a queda do dólar ou das torres gêmeas, começamos a "repercutir", a procurar o sentido e os desdobramentos do que nos parecem fatos importantes.
Já é possível ter uma idéia do que (e se) mudou depois dos atentados de Osama bin Laden? 11 de setembro mudou o mundo, os EUA ou o governo do indizível George "Baby" Bush? Por ora, parece só que Bin Laden deu um sentido para a vida e à presidência de Bush. Um governo antes talhado só para arrumar a vida de empresas e de ricos, agora se diz disposto a tornar o mundo "mais seguro", de modo aleatório e inepto. Mas, pós-Bush, os EUA vão continuar na mesma trilha?
É verdade que os EUA e os europeus se têm estranhado. Mas trata-se de uma mudança de perspectiva devido ao fato de a Europa estar à beira de se tornar uma federação de verdade, com Constituição própria e interesses federativos específicos, de segurança inclusive? Ou porque a Alemanha, devido a uma disputa eleitoral, pela primeira vez tenta peitar os EUA desde 1945? Mas a França, sempre mais anti-americana, ainda estuda o apoio a uma guerra no Iraque.
O mundo está a confusão de sempre, piorada após o fim da União Soviética. Alguns comentaristas, este inclusive, tiveram a ilusão idiota de que Bush colocaria ordem em cenários de massacres horríveis, como na Palestina. Mas Bush parece apenas lutar desordenadamente mais uma batalha da guerra islâmica que começou no Irã, em 1979. Pode botar fogo no Oriente Médio. Mas pode apenas depor Sadam e o mundo seguir o seu caminho de horrores habituais. É muito cedo para saber.


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