São Paulo, segunda-feira, 09 de setembro de 2002

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CARLOS HEITOR CONY

Desfiles de ontem

RIO DE JANEIRO - Passou mais um 7 de Setembro, o chamado dia da pátria, e, como caiu num sábado, nem sequer houve feriado comemorativo. Na mídia, as futricas da campanha eleitoral e a proximidade do primeiro aniversário do atentado ao World Trade Center abafaram a data nacional.
É bem verdade que o regime militar de 64 desgastou o 7 de Setembro, tornando-o um evento particular da classe que detinha o poder político. Nos tempos da ditadura do Estado Novo, também o 7 de Setembro parecia uma festa mais do governo do que da nação. Mesmo assim, o povo comparecia, crianças agitavam bandeirinhas nacionais e, no estádio do Vasco da Gama, que era o maior do Brasil, o maestro Villa-Lobos, descabelado, regia imensos coros orfeônicos.
Mas a grande data do regime Vargas não era o 7 de Setembro, e sim o 1º de Maio, Dia do Trabalho, quando, no mesmo estádio, com o mesmo Villa-Lobos descabelado regendo alunos das escolas públicas do Rio, o ditador pronunciava o bordão mais famoso daquela época: "Trabalhadores do Brasil!".
Vargas era amado pelo povo, sobretudo pelos citados trabalhadores do Brasil. No regime militar de 64, o povo só não vaiava o 7 de Setembro porque, afinal, a pátria nada tinha com aquelas paradas e ordens do dia que condenavam as "idéias exóticas" -metáfora usada para designar o comunismo.
Neste ano, como ia dizendo, a data só não passou em branca nuvem por que aqui no Rio fez um tempo abominável, com ventos e rajadas frescas, além de trovoadas, que fizeram tremer minhas janelas.
Não ouvi nos rádios vizinhos nenhum dobrado militar, sinal de que, se houve paradas, elas não foram "irradiadas" - era assim que antigamente se dizia. Irradiados eram os desfiles de antanho, os locutores louvavam os Dragões da Independência. E todos os batalhões, inclusive o pessoal do Corpo de Bombeiros, eram chamados de "históricos".


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