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CARLOS HEITOR CONY
Desfiles de ontem
RIO DE JANEIRO - Passou mais um 7 de Setembro, o chamado dia da pátria, e, como caiu num sábado, nem
sequer houve feriado comemorativo.
Na mídia, as futricas da campanha
eleitoral e a proximidade do primeiro
aniversário do atentado ao World
Trade Center abafaram a data nacional.
É bem verdade que o regime militar
de 64 desgastou o 7 de Setembro, tornando-o um evento particular da
classe que detinha o poder político.
Nos tempos da ditadura do Estado
Novo, também o 7 de Setembro parecia uma festa mais do governo do que
da nação. Mesmo assim, o povo comparecia, crianças agitavam bandeirinhas nacionais e, no estádio do Vasco
da Gama, que era o maior do Brasil,
o maestro Villa-Lobos, descabelado,
regia imensos coros orfeônicos.
Mas a grande data do regime Vargas não era o 7 de Setembro, e sim o
1º de Maio, Dia do Trabalho, quando, no mesmo estádio, com o mesmo
Villa-Lobos descabelado regendo
alunos das escolas públicas do Rio, o
ditador pronunciava o bordão mais
famoso daquela época: "Trabalhadores do Brasil!".
Vargas era amado pelo povo, sobretudo pelos citados trabalhadores do
Brasil. No regime militar de 64, o povo só não vaiava o 7 de Setembro porque, afinal, a pátria nada tinha com
aquelas paradas e ordens do dia que
condenavam as "idéias exóticas"
-metáfora usada para designar o
comunismo.
Neste ano, como ia dizendo, a data
só não passou em branca nuvem por
que aqui no Rio fez um tempo abominável, com ventos e rajadas frescas, além de trovoadas, que fizeram
tremer minhas janelas.
Não ouvi nos rádios vizinhos nenhum dobrado militar, sinal de que,
se houve paradas, elas não foram "irradiadas" - era assim que antigamente se dizia. Irradiados eram os
desfiles de antanho, os locutores louvavam os Dragões da Independência.
E todos os batalhões, inclusive o pessoal do Corpo de Bombeiros, eram
chamados de "históricos".
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