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CARTA AO FMI
Em carta endereçada ao Fundo
Monetário Internacional, as autoridades econômicas brasileiras
ressaltam que a economia já superou
as "dificuldades iniciais", estando a
inflação a convergir para as metas estabelecidas, o que permitiria ao Banco Central, finalmente, "relaxar a política monetária".
O diagnóstico é consensual. É evidente que a asfixia promovida pelo
governo, seja por meio dos juros, seja com a consecução de elevados superávits primários nas contas públicas, resultou numa mudança de cenário, ficando para trás o quadro de
disparada dos índices inflacionários,
elevação descontrolada da cotação
do dólar e deterioração da confiança
no país. Contribuiu, também, para
isso, a aprovação inicial das propostas de reformas da Previdência e tributária na Câmara dos Deputados.
O que não é consensual é se a terapia precisaria ter sido tão drástica, se
havia necessidade de gerar tamanho
custo social e se a saída do quadro de
restrições deveria ser tão morosa e
cautelosa quanto tem sido. Parece
claro que, no afã de produzir um
"choque de credibilidade", a equipe
econômica agiu com redobrado conservadorismo, não tendo sido capaz
de reagir com maior presteza aos sinais recessivos da economia real.
Em parte, o comportamento do BC
advém de uma abordagem ortodoxa
e tecnocrática dos índices e metas de
inflação. Ao preferir observar a evolução dos preços com base em modelos tão rígidos quanto discutíveis,
e ao apostar em metas draconianas,
o BC acabou por negligenciar os efeitos deletérios sobre a economia.
A carta ao FMI reitera essa perspectiva. O governo compromete-se a
perseguir inflexivelmente as metas
de inflação para 2004 e 2005, respectivamente de 5,5% e 4,5%. Embora
se trate, a rigor, de uma formalidade,
já que situações objetivas como um
choque externo exigiriam a revisão
das metas, a atitude é sintomática. O
BC parece continuar mais concentrado em oscilações no monitoramento
da inflação do que no comportamento da economia como um todo.
Resta saber como o referido "relaxamento" da política monetária irá
efetivamente ocorrer. Até aqui, as reduções da taxa Selic podem ter contribuído para melhorar expectativas,
mas pouco fizeram para alterar a situação real do crédito e do consumo.
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