UOL




São Paulo, terça-feira, 09 de setembro de 2003

Próximo Texto | Índice

CARTA AO FMI

Em carta endereçada ao Fundo Monetário Internacional, as autoridades econômicas brasileiras ressaltam que a economia já superou as "dificuldades iniciais", estando a inflação a convergir para as metas estabelecidas, o que permitiria ao Banco Central, finalmente, "relaxar a política monetária".
O diagnóstico é consensual. É evidente que a asfixia promovida pelo governo, seja por meio dos juros, seja com a consecução de elevados superávits primários nas contas públicas, resultou numa mudança de cenário, ficando para trás o quadro de disparada dos índices inflacionários, elevação descontrolada da cotação do dólar e deterioração da confiança no país. Contribuiu, também, para isso, a aprovação inicial das propostas de reformas da Previdência e tributária na Câmara dos Deputados.
O que não é consensual é se a terapia precisaria ter sido tão drástica, se havia necessidade de gerar tamanho custo social e se a saída do quadro de restrições deveria ser tão morosa e cautelosa quanto tem sido. Parece claro que, no afã de produzir um "choque de credibilidade", a equipe econômica agiu com redobrado conservadorismo, não tendo sido capaz de reagir com maior presteza aos sinais recessivos da economia real.
Em parte, o comportamento do BC advém de uma abordagem ortodoxa e tecnocrática dos índices e metas de inflação. Ao preferir observar a evolução dos preços com base em modelos tão rígidos quanto discutíveis, e ao apostar em metas draconianas, o BC acabou por negligenciar os efeitos deletérios sobre a economia.
A carta ao FMI reitera essa perspectiva. O governo compromete-se a perseguir inflexivelmente as metas de inflação para 2004 e 2005, respectivamente de 5,5% e 4,5%. Embora se trate, a rigor, de uma formalidade, já que situações objetivas como um choque externo exigiriam a revisão das metas, a atitude é sintomática. O BC parece continuar mais concentrado em oscilações no monitoramento da inflação do que no comportamento da economia como um todo.
Resta saber como o referido "relaxamento" da política monetária irá efetivamente ocorrer. Até aqui, as reduções da taxa Selic podem ter contribuído para melhorar expectativas, mas pouco fizeram para alterar a situação real do crédito e do consumo.


Próximo Texto: Editoriais: COMEÇAR DE NOVO
Índice


UOL
Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.