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PLÍNIO FRAGA
Pequeno príncipe, grande fantasma
RIO DE JANEIRO - O príncipe da
sociologia incorporou o príncipe da
Dinamarca. Fernando Henrique
Cardoso dirigiu carta pública "às
pessoas de boa fé que olham a política com atenção". Nas entrelinhas
do texto de mais de 4.200 palavras,
espalha-se o ser-ou-não-ser tipicamente tucano -na internet descobre-se que Shakespeare escreveu
"Hamlet" com pouco mais de 29 mil
palavras.
FHC justifica seu texto em razão
da necessidade de os tucanos se diferenciarem da "podridão reinante". "A podridão que encobre "a política" está nos transformando em
vultos. Precisamos reganhar nossa
cara", pede o ex-presidente, de modo hamletiano. Prega que a política
tem de diferenciar "bons e maus".
Como a trupe de teatro de "Hamlet", FHC dá um tom bufão ao texto
ao se divertir dizendo que "a nenhum governo caberia melhor o
epíteto de neoliberal do que ao do
PT" e ao desdenhar do que chama
de "filosofia lulista". Vingança é a
base de "Hamlet", mas FHC recorre
a Beckett para dizer que aguardar a
"revolução salvadora" é como viver
à espera de Godot.
Reclama que "o PSDB não deve
alimentar dúvidas metafísicas sobre se teria sido certo ou errado
privatizar". Nesse trecho, como um
fantasma do passado, a carta tem
um erro de digitação que pode levar
a interpretações freudianas.
"Privatizamos sim, e nada temos
a esconder no processo de privatização: tudo foi feito em leilões públicos, com preços que, quando foram estimulados pelo governo, foi
para sem (sic) maiores e, se maiores não foram em certos casos, foi
porque o "mercado" avaliou que, nas
condições da época, mais não valiam."
É claro que FHC quis escrever
que os preços foram estimulados
pelo governo a serem maiores. Mas
os fantasmas se divertem até com
os poderosos, como a perguntar: e o
resto? O resto é silêncio.
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