São Paulo, sábado, 09 de setembro de 2006

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PLÍNIO FRAGA

Pequeno príncipe, grande fantasma

RIO DE JANEIRO - O príncipe da sociologia incorporou o príncipe da Dinamarca. Fernando Henrique Cardoso dirigiu carta pública "às pessoas de boa fé que olham a política com atenção". Nas entrelinhas do texto de mais de 4.200 palavras, espalha-se o ser-ou-não-ser tipicamente tucano -na internet descobre-se que Shakespeare escreveu "Hamlet" com pouco mais de 29 mil palavras.
FHC justifica seu texto em razão da necessidade de os tucanos se diferenciarem da "podridão reinante". "A podridão que encobre "a política" está nos transformando em vultos. Precisamos reganhar nossa cara", pede o ex-presidente, de modo hamletiano. Prega que a política tem de diferenciar "bons e maus".
Como a trupe de teatro de "Hamlet", FHC dá um tom bufão ao texto ao se divertir dizendo que "a nenhum governo caberia melhor o epíteto de neoliberal do que ao do PT" e ao desdenhar do que chama de "filosofia lulista". Vingança é a base de "Hamlet", mas FHC recorre a Beckett para dizer que aguardar a "revolução salvadora" é como viver à espera de Godot.
Reclama que "o PSDB não deve alimentar dúvidas metafísicas sobre se teria sido certo ou errado privatizar". Nesse trecho, como um fantasma do passado, a carta tem um erro de digitação que pode levar a interpretações freudianas.
"Privatizamos sim, e nada temos a esconder no processo de privatização: tudo foi feito em leilões públicos, com preços que, quando foram estimulados pelo governo, foi para sem (sic) maiores e, se maiores não foram em certos casos, foi porque o "mercado" avaliou que, nas condições da época, mais não valiam."
É claro que FHC quis escrever que os preços foram estimulados pelo governo a serem maiores. Mas os fantasmas se divertem até com os poderosos, como a perguntar: e o resto? O resto é silêncio.


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