São Paulo, quarta-feira, 09 de outubro de 2002

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ANTONIO DELFIM NETTO

Nossa inflação

Um dos pontos positivos do governo Fernando Henrique foi, certamente, ter consolidado o controle da inflação iniciado quando ainda era ministro da Fazenda de Itamar Franco. A formulação do Plano Real foi obra brilhante de alguns economistas brasileiros que tinham participado do Plano Cruzado, em 1986. O sucesso do Plano Real foi tão grande que permitiu que se levasse longe demais a valorização da taxa de câmbio real. Isso produziu um déficit em conta corrente, nos primeiros quatro anos, da ordem de US$ 100 bilhões. Em plena campanha eleitoral de 1998, o país enfrentou uma crise de liquidez que exigiu o apelo ao FMI para um empréstimo por ele coordenado de US$ 41 bilhões.
Um dos fatores que encurtaram a vida da valorização foi a incontinência fiscal do governo no período de 1995 a 1998, quando se registraram imprudentes déficits fiscais. Eles só foram parcialmente corrigidos a partir de 1999, com superávits primários de 3,5% do PIB, por exigência do FMI. Em 2002, esse superávit será da ordem de 3,9%. Por sugestão do Fundo, preparou-se e foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que vai produzindo o equilíbrio fiscal nos três níveis de governo.
Quando o mercado forçou a desvalorização cambial (duas semanas depois da posse de FHC no segundo mandato), adotou-se um sistema de câmbio flutuante e um sistema de "metas" inflacionárias que tem funcionado razoavelmente bem. E isso a despeito da enorme "barbeiragem" energética produzida pela falta de cuidado com que foi feita a privatização do setor. O sistema de metas inflacionárias tem sofrido reveses: cada vez fica mais parecido com o sistema de "previsão inflacionária". Isso talvez seja justificado diante dos "choques" de oferta a que tem sido submetido.
A taxa de inflação brasileira é relativamente civilizada (7,5% anual em agosto), mas está muito longe da média dos países de maior peso no PIB mundial. Existem 15 países cujo PIB é superior a 1% do PIB mundial. O PIB do Brasil, por exemplo, é o nono PIB mundial e representa cerca de 1,9% dele, enquanto os EUA e o Japão representam 32% e 15%, respectivamente.
O gráfico mostra o desconforto de nossa posição em matéria de taxa de inflação (ano setembro/agosto) com relação às maiores 15 economias. A nossa taxa de inflação é a maior delas.




Isso mostra que o novo governo deve encarar com cuidado o controle da inflação. Ontem, como hoje, o IGP-M não está grávido de IPCA. Entretanto aceitar a idéia, corrente em alguns círculos, de que o Banco Central foi muito exigente e, por isso, o crescimento do PIB foi medíocre é um equívoco que pode ter graves consequências.

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.

dep.delfimnetto@camara.gov.br



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