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ANTONIO DELFIM NETTO
Nossa inflação
Um dos pontos positivos do governo Fernando Henrique foi,
certamente, ter consolidado o controle da inflação iniciado quando ainda
era ministro da Fazenda de Itamar
Franco. A formulação do Plano Real
foi obra brilhante de alguns economistas brasileiros que tinham participado do Plano Cruzado, em 1986. O
sucesso do Plano Real foi tão grande
que permitiu que se levasse longe demais a valorização da taxa de câmbio
real. Isso produziu um déficit em conta corrente, nos primeiros quatro
anos, da ordem de US$ 100 bilhões.
Em plena campanha eleitoral de 1998,
o país enfrentou uma crise de liquidez
que exigiu o apelo ao FMI para um
empréstimo por ele coordenado de
US$ 41 bilhões.
Um dos fatores que encurtaram a vida da valorização foi a incontinência
fiscal do governo no período de 1995 a
1998, quando se registraram imprudentes déficits fiscais. Eles só foram
parcialmente corrigidos a partir de
1999, com superávits primários de
3,5% do PIB, por exigência do FMI.
Em 2002, esse superávit será da ordem
de 3,9%. Por sugestão do Fundo, preparou-se e foi aprovada a Lei de Responsabilidade Fiscal, que vai produzindo o equilíbrio fiscal nos três níveis
de governo.
Quando o mercado forçou a desvalorização cambial (duas semanas depois da posse de FHC no segundo
mandato), adotou-se um sistema de
câmbio flutuante e um sistema de
"metas" inflacionárias que tem funcionado razoavelmente bem. E isso a
despeito da enorme "barbeiragem"
energética produzida pela falta de cuidado com que foi feita a privatização
do setor. O sistema de metas inflacionárias tem sofrido reveses: cada vez fica mais parecido com o sistema de
"previsão inflacionária". Isso talvez
seja justificado diante dos "choques"
de oferta a que tem sido submetido.
A taxa de inflação brasileira é relativamente civilizada (7,5% anual em
agosto), mas está muito longe da média dos países de maior peso no PIB
mundial. Existem 15 países cujo PIB é
superior a 1% do PIB mundial. O PIB
do Brasil, por exemplo, é o nono PIB
mundial e representa cerca de 1,9%
dele, enquanto os EUA e o Japão representam 32% e 15%, respectivamente.
O gráfico mostra o desconforto de
nossa posição em matéria de taxa de
inflação (ano setembro/agosto) com
relação às maiores 15 economias. A
nossa taxa de inflação é a maior delas.
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Isso mostra que o novo governo deve encarar com cuidado o controle da
inflação. Ontem, como hoje, o IGP-M
não está grávido de IPCA. Entretanto
aceitar a idéia, corrente em alguns círculos, de que o Banco Central foi muito exigente e, por isso, o crescimento
do PIB foi medíocre é um equívoco
que pode ter graves consequências.
Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras
nesta coluna.
dep.delfimnetto@camara.gov.br
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