São Paulo, quinta-feira, 09 de outubro de 2003 |
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TENDÊNCIAS/DEBATES A pressa e as eleições
JOAQUIM FALCÃO
Por isso existe na política, há já algum tempo, o entendimento de que governar é distribuir o orçamento diretamente aos necessitados. Sem intermediários. Do governo direto para o povo. Um "fast track" nacional. Chamem isso de neo-assitencialismo ou não, pouco importa. Quase todos os partidos o fazem. Os exemplos são muitos. No Rio de Janeiro é refeição a R$ 1 e remédio a R$ 1. Em São Paulo, é doação de roupa, sapato e mochila a jovens e crianças do ensino público. O programa de alfabetização do governo federal traz embutido um subprograma de distribuição imediata de orçamento: remuneram-se os alfabetizadores e, se possível, os alunos também. Mesmo que sejam R$ 10 para cada um por mês. Tudo vale a pena quando a necessidade é imediata -e é. Sem falar nos já tradicionais Bolsa-Escola e Bolsa-Família. No México tem sido assim com sucesso. O programa "Solidariedad" distribui o Orçamento público em troca de determinados comportamentos sociais das famílias, o que inclui de educar os filhos à obrigatoriedade de as mulheres fazerem exame de câncer de mama. O segundo grupo de eleitores com pressa são os assaltados, as vítimas de violência de todas as classes. Em passado não muito remoto, apenas ouvia-se falar de assaltos. Depois, passou-se a conhecer alguém que fora assaltado. Em seguida, todos passaram a ter alguém da família que tinha sido assaltado. Para, logo em seguida, o próprio ter sido assaltado. Hoje a pergunta corrente é: quantas vezes você já foi assaltado? Nem se pense que estes últimos são eleitores apenas das classes médias urbanas. Não são não. A violência e os assaltos nos bairros pobres, nas favelas, nas periferias são tão frequentes quanto nos bairros e condomínios. A reação dos mais pobres, sim, é que tem sido mais silenciosa e menos dramática -infelizmente, por causa da descrença popular nas instituições policiais e judiciais, crescente anomia social. Os assaltados também não podem mais esperar círculos virtuosos: a criação de empregos para retirar os marginais da rua, a proibição da venda de amas adiada por anos, a insuficiência de recursos para construção de novos presídios, a reeducação, capacitação e melhores salários para a polícia. Na questão da segurança, o que vai contar nas eleições é qual candidato mostrará, em seu currículo, mais resultados. Qual candidato tem a personalidade mais forte e, queira Deus, honra também, para enfrentar a violência? Quem tem mais coragem? Quem será capaz de fazer, mais do que de dizer? A defasagem entre o tempo dos governantes e o dos eleitores deverá ser uma variante decisiva na próxima eleição. O futuro acabou; o que conta é o hoje. Lorde Keynes, o ultrafamoso economista inglês, diante das múltiplas teorias econômicas de longo prazo, dizia: "A longo prazo, estaremos todos mortos". Com o Brasil é diferente. A longo prazo, o Brasil não estará morto. O problema é sobreviver no curto prazo. Esses eleitores mandam clara mensagem a partidos e candidatos: sem o Brasil do curto prazo, esqueçam o do longo prazo. Em país pobre, o futuro é hoje. Joaquim Falcão, 60, mestre em direito pela Universidade Harvard (EUA) e professor da Faculdade de Direito da UFRJ, é diretor da Escola de Direito da Fundação Getulio Vargas-RJ. Texto Anterior: Frases Próximo Texto: Candido Mendes: À esquerda, rótulo e bula Índice |
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