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A ENTREVISTA DE LULA
A entrevista concedida pelo
presidente Lula ao "Roda Viva", da TV Cultura, não trouxe esclarecimentos definitivos sobre o escândalo de corrupção no governo e no
PT, mas contribuiu para reforçar
uma antiga reivindicação de diversos
setores da opinião pública: a de que o
presidente deveria submeter-se com
mais freqüência à inquirição dos jornalistas. Até porque não lhe falta capacidade de tergiversar.
A estratégia de assumir a responsabilidade pela crise política -mesmo
que afirme não ter conhecimento
dos ilícitos praticados- mostrou-se
até certo ponto eficiente para transmitir segurança e convicção nos rumos do governo. Para isso também
contribuiu o formato do programa,
em que a disputa dos entrevistadores
pela palavra tende a beneficiar o entrevistado, facilitando a dispersão.
As diversas evasivas, contudo, não
impediram que contradições viessem à tona. O presidente defendeu
que um exemplo de transparência
em seu governo é o fato de haver três
CPIs em curso. Mas foi esse mesmo
governo que travou batalha renhida
para impedir a criação da CPI dos
Correios. E, quando indagado a respeito dos resultados da apuração
-os recursos do Banco do Brasil repassados ao PT por intermédio da
Visanet e de Marcos Valério-, optou
por desqualificar a evidência.
Lula mostrou-se também inconsistente ao condenar o uso de caixa dois
como algo "intolerável". Da primeira
vez em que se pronunciou sobre o tema, limitou-se a tratá-lo como uma
prática rotineira no meio político.
Apesar das reiteradas solicitações,
Lula concedeu a primeira entrevista
coletiva no Brasil dois anos e quatro
meses após sua posse. Ainda assim,
sob intenso auxílio dos assessores e
com a condição de que não contestassem suas respostas.
Em que pesem os deslizes e os cuidados que cercaram o programa, a
entrevista de anteontem mostrou
que mais vale se expor aos riscos da
controvérsia do que transmitir à sociedade a impressão de despreparo
para se submeter a um mecanismo
básico do jogo democrático.
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