São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

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A ENTREVISTA DE LULA

A entrevista concedida pelo presidente Lula ao "Roda Viva", da TV Cultura, não trouxe esclarecimentos definitivos sobre o escândalo de corrupção no governo e no PT, mas contribuiu para reforçar uma antiga reivindicação de diversos setores da opinião pública: a de que o presidente deveria submeter-se com mais freqüência à inquirição dos jornalistas. Até porque não lhe falta capacidade de tergiversar.
A estratégia de assumir a responsabilidade pela crise política -mesmo que afirme não ter conhecimento dos ilícitos praticados- mostrou-se até certo ponto eficiente para transmitir segurança e convicção nos rumos do governo. Para isso também contribuiu o formato do programa, em que a disputa dos entrevistadores pela palavra tende a beneficiar o entrevistado, facilitando a dispersão.
As diversas evasivas, contudo, não impediram que contradições viessem à tona. O presidente defendeu que um exemplo de transparência em seu governo é o fato de haver três CPIs em curso. Mas foi esse mesmo governo que travou batalha renhida para impedir a criação da CPI dos Correios. E, quando indagado a respeito dos resultados da apuração -os recursos do Banco do Brasil repassados ao PT por intermédio da Visanet e de Marcos Valério-, optou por desqualificar a evidência.
Lula mostrou-se também inconsistente ao condenar o uso de caixa dois como algo "intolerável". Da primeira vez em que se pronunciou sobre o tema, limitou-se a tratá-lo como uma prática rotineira no meio político.
Apesar das reiteradas solicitações, Lula concedeu a primeira entrevista coletiva no Brasil dois anos e quatro meses após sua posse. Ainda assim, sob intenso auxílio dos assessores e com a condição de que não contestassem suas respostas.
Em que pesem os deslizes e os cuidados que cercaram o programa, a entrevista de anteontem mostrou que mais vale se expor aos riscos da controvérsia do que transmitir à sociedade a impressão de despreparo para se submeter a um mecanismo básico do jogo democrático.


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