São Paulo, quarta-feira, 09 de novembro de 2005

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ANTONIO DELFIM NETTO

2006: infelizmente, mais do mesmo

Olhada com os números do "Relatório de Mercado" de 28/10/05, publicação semanal do Banco Central que condensa as opiniões "medianas" das expectativas dos seus informantes sobre os principais indicadores da economia brasileira, vê-se uma perspectiva nada alvissareira para 2006. A opinião "mediana" é aquela que divide as informações ordenadas em ordem crescente em duas partes iguais. Ela tem a vantagem de ser menos sensível do que a média aritmética aos valores extremos. Como os informantes não são estratificados e são escolhidos ao acaso no universo econômico, e como as informações são semanais, elas tendem a refletir o viés financeiro característico do curtíssimo prazo. Por outro lado, como cada informante semanal conhece a "mediana" da informação da semana anterior, há, em condições normais de temperatura e pressão, uma tendência para reduzir a variância das expectativas, porque o informante tem interesse em "errar o menos possível": quando "todos erram juntos, ninguém erra"! Essas observações não eliminam um fato: por mais problemática que sejam tais expectativas, são as melhores de que dispomos.
O que nos dizem elas em matéria de crescimento e inflação? A tabela abaixo resume as informações:



Vemos que (até agora) as perspectivas são de um crescimento pífio também em 2006, quando continuaremos a nos afastar do mundo. Se confirmados esses números, a economia terá crescido no quadriênio de Lula à taxa média de 2,9%, com um crescimento "per capita" de 1,5% ao ano. Na octaetéride de FHC, o crescimento médio foi de 2,3% ao ano, com um crescimento "per capita" de 0,9%. Dois resultados absolutamente medíocres: com FHC, o PIB "per capita" dobraria a cada 78 anos (três gerações), com Lula, dobraria a cada 47 anos (duas gerações).
Em matéria de progresso no combate à inflação, temos que ela foi, em média, no segundo mandato de FHC (1999-2002), da ordem de 8,8% e, no governo Lula (2003-2006), da ordem de 6,7% -também à custa de taxas de juros reais absurdas, que estão produzindo uma inconveniente supervalorização do real. Perdemos, outra vez, a grande oportunidade de crescimento criada pela enorme expansão da economia mundial dos últimos três anos, apesar de termos "surfado" a expansão do comércio mundial.
E o que dizem as "expectativas" em relação à taxa de juro real? A tabela abaixo revela o que se espera.


Com essas taxas de juros, a dívida líquida do setor público/PIB continuará a dançar em torno dos 52% que nos perseguem há seis anos, comprometendo a esperança de que possamos reduzi-la mais depressa e libertar a economia para um crescimento mais robusto. A única solução para essa armadilha é um esforço continuado que elimine o déficit fiscal pela redução das despesas. Infelizmente, é isso que os "companheiros" do PT parecem ter dificuldade de entender.

Antonio Delfim Netto escreve às quartas-feiras nesta coluna.
@ - dep.delfimnetto@camara.gov.br


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