|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
CARLOS HEITOR CONY
Os vilões de cada dia
RIO DE JANEIRO - A crise política que atravessamos está confirmando
aquela sovada frase segundo a qual
cada um pode, na aldeia global, ser
famoso por 15 minutos. Bem verdade
que a fama nem sempre equivale a
uma glória ou a um heroísmo cívico
ou pessoal. Não fui eu quem inventou
a palavra "fama" -aliás, não inventei palavra alguma: ela pode gerar o
famoso e o famigerado, o que nem
sempre dá na mesma.
É espantosa a velocidade com que
famosos e famigerados surgem e desaparecem. Basta um exemplo: Roberto Jefferson. Foi ele quem deu o
"fiat", o pontapé inicial para a sucessão de escândalos que crescem dia
após dia.
Hoje, para citá-lo, é necessário recorrer ao banco de dados, aos arquivos, aos departamentos de pesquisa,
ao Google, à biblioteca do Congresso,
em Washington, ou à Torre do Tombo, em Lisboa, que guarda alguns dos
documentos mais importantes de
nossa história.
Se a citação for em livro, exigirá
uma nota de pé de página para explicar ao leitor de quem se trata.
Diz o Evangelho que, a cada dia,
bastam as suas preocupações. Deveria ter dito: a cada dia, basta o seu vilão, que, obviamente, seria o vilão do
dia. No princípio, houve uma espécie
de hierarquia, de alto e de baixo clero, no desfile dos vilões produzidos
pelos inquéritos oficiais e investigações avulsas. Surgiram casos periféricos, como o da morte do prefeito de
Santo André e as suspeitas contra o
ex-prefeito de Ribeirão Preto, que
congestionaram mais ainda a passarela da fama.
Outro dia, num programa de TV,
um sujeito confundiu Delúbio com
Delcídio. Isso sem falar nos vilões
"hors concours" (Fidel, Chávez,
Bush) e em outros que estão em recesso provisório, aguardando a vez para
desfilar.
Nisso tudo, quem fica bem é o Paulo Maluf. Faça o que fizer, será sempre um vilão para a mídia. Foi vilão
enquanto esteve preso e foi vilão
maior quando tomou um chope em
Campos do Jordão.
Texto Anterior: Brasília - Fernando Rodrigues: Pantomina no Congresso Próximo Texto: Antonio Delfim Netto: 2006: infelizmente, mais do mesmo Índice
|