São Paulo, Quinta-feira, 09 de Dezembro de 1999


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Tradução simultânea

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Nunca achei o governo de FHC muito diferente do de Collor. Lembro sempre aquela conversa que os dois tiveram num sofá, pouco antes de Collor tomar posse no Congresso. Aquela pausa não estava prevista no cerimonial. A afobação de FHC de se mostrar, de tirar uma casquinha no triunfo do outro, era sintomática e daria no que está dando.
Tivemos agora a confusão a propósito do salário-referência para o cálculo da Previdência. A cúpula do governo não se entendeu, cada um disse uma coisa, revelando a falta de conjunto e de objetivos do poder.
Estamos lembrados da primeira aparição da equipe de Collor, logo no primeiro dia após a posse. Dona Zélia, Ibrahim Eris e um outro que agora não recordo ficaram em rede na TV, durante horas, explicando as regras do confisco. Ninguém entendia nada e eles próprios nada entendiam do que estavam dizendo.
O Ibrahim Eris, que é turco, parecia entender um pouco do assunto, mas falava ""o cadeira", ""a papel", não havia tradução simultânea para ele. Não estou muito seguro, mas acho que o próprio Collor, alertado para o vexame que seus principais auxiliares estavam dando, mandou cortar o programa.
Desculpa-se Collor. Estava no primeiro dia de seu mandato, estreando uma equipe zero-quilômetro. Não é o caso de FHC, que está refestelado na máquina há cinco anos e ainda não aprendeu a manobrá-la.
O próprio FHC, sozinho, vale pela trinca inicial do governo Collor. Ele próprio diz uma coisa e logo a desmente. Não faz muito, criticou ACM e Temer, aqui no Rio, tão logo terminou sua fala pegou o celular e avisou aos dois que ""fora mal interpretado".
Na realidade, ninguém interpretara nada, nem houvera tempo para isso. Embora nascido no Brasil, e fluente em português, o presidente está precisando de tradução simultânea.


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