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Tradução simultânea
CARLOS HEITOR CONY
Rio de Janeiro - Nunca achei o governo de FHC muito diferente do de Collor. Lembro sempre aquela conversa
que os dois tiveram num sofá, pouco
antes de Collor tomar posse no Congresso. Aquela pausa não estava prevista no cerimonial. A afobação de
FHC de se mostrar, de tirar uma casquinha no triunfo do outro, era sintomática e daria no que está dando.
Tivemos agora a confusão a propósito do salário-referência para o cálculo
da Previdência. A cúpula do governo
não se entendeu, cada um disse uma
coisa, revelando a falta de conjunto e
de objetivos do poder.
Estamos lembrados da primeira
aparição da equipe de Collor, logo no
primeiro dia após a posse. Dona Zélia,
Ibrahim Eris e um outro que agora
não recordo ficaram em rede na TV,
durante horas, explicando as regras
do confisco. Ninguém entendia nada e
eles próprios nada entendiam do que
estavam dizendo.
O Ibrahim Eris, que é turco, parecia
entender um pouco do assunto, mas
falava ""o cadeira", ""a papel", não havia tradução simultânea para ele. Não
estou muito seguro, mas acho que o
próprio Collor, alertado para o vexame que seus principais auxiliares estavam dando, mandou cortar o programa.
Desculpa-se Collor. Estava no primeiro dia de seu mandato, estreando
uma equipe zero-quilômetro. Não é o
caso de FHC, que está refestelado na
máquina há cinco anos e ainda não
aprendeu a manobrá-la.
O próprio FHC, sozinho, vale pela
trinca inicial do governo Collor. Ele
próprio diz uma coisa e logo a desmente. Não faz muito, criticou ACM e
Temer, aqui no Rio, tão logo terminou
sua fala pegou o celular e avisou aos
dois que ""fora mal interpretado".
Na realidade, ninguém interpretara
nada, nem houvera tempo para isso.
Embora nascido no Brasil, e fluente
em português, o presidente está precisando de tradução simultânea.
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