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CLÓVIS ROSSI
Os amigos e a nudez do rei
SÃO PAULO - Há, de fato, alguma diferença essencial entre a desilusão sobre o governo Lula, vertida ontem
nas páginas desta Folha pelo jurista
Fábio Konder Comparato, e as críticas feitas pela senadora Heloísa Helena, para não citar outros mal chamados radicais do PT?
Não, não há. Então seria justo que
o professor Comparato fosse expulso
do clube de amigos de Lula, não é
mesmo? Afinal, se o PT pode expulsar
a senadora e mais alguns parlamentares, por que tolerar que não-parlamentares digam as mesmíssimas coisas que os ditos radicais vêm dizendo
sobre os mesmos temas?
Assim, Comparato, o sociólogo Chico de Oliveira, o filósofo Paulo Arantes, acadêmicos como José Luiz Fiori,
economistas como João Sayad, todos
deveriam ser excluídos do convívio
dos petistas.
O problema é que não adiantaria
nada: eles estão apenas dizendo que
o rei está nu (ou quase nu, para os
mais condescendentes). Não precisam de licença de quem quer que seja
para reconhecer os fatos como são.
Se o PT não tivesse perdido o rumo
completamente, faria justamente o
contrário. Afinal, se há duas características que marcam bem Comparato
e Chico de Oliveira, para ficar nos
dois, é a desambição. Nem um nem
outro se tornaram amigos de Lula e
perseveraram na amizade, mesmo
em tempos difíceis, com expectativas
de lucros de qualquer natureza (dinheiro, cargos, prebendas).
Podem até estar totalmente equivocados em suas posições, mas são intelectualmente honestos até o limite de
romper a amizade com a mais poderosa figura da República, como já o
fez Chico de Oliveira e começa a fazer
Konder Comparato, simplesmente
para poderem continuar a dizer as
verdades em que acreditam.
De quantos dos neo-amigos de Lula, dos que agora o aplaudem depois
de terem-no crucificado uma e outra
vez, pode o presidente dizer a mesma
coisa?
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