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ELIANE CANTANHÊDE
Gol 1907
BRASÍLIA - As conclusões finais
sobre o choque do jato Legacy com
o Boeing da Gol, amanhã, encerram
mais de dois anos de um minucioso
trabalho de investigação que parte
de três bases: as caixas-pretas dos
dois aviões, os dados do controle de
tráfego aéreo em terra e os depoimentos de sobreviventes.
Na lista dos 30 maiores acidentes
aéreos do mundo, só três foram por
choque de aeronaves em pleno ar. O
Gol 1907 é um deles, com uma característica única: um dos aviões,
justamente o pequeno Legacy, escapou com seus seis ocupantes.
O Cenipa, chefiado pelo brigadeiro Kersul Filho, reproduziu, com
apoio de técnicos brasileiros, norte-americanos e canadenses, 261 páginas e o que eles chamam de "animação". São duas horas, em três telas, a
maior para o mapa e o percurso das
duas aeronaves -o Legacy rumo ao
norte, e o Boeing no sentido inverso, ambos a 37 mil pés.
Ao lado direito, a tela de cima tem
a movimentação do Legacy, e a de
baixo, a do Boeing. A qualquer momento, é possível congelar a imagem e confrontá-la com o registro
dos computadores do Cindacta. Assim, é possível saber exatamente
onde o Legacy estava quando o seu
transponder sumiu dos radares, às
19h01min27s3 (hora Zulu, três a
mais que a brasileira naquele mês).
Isso foi decisivo para a tragédia,
que matou 154 pessoas. Mas ela foi
tramada caprichosamente por vários e inacreditáveis erros humanos, desde a decolagem do Legacy
de São José dos Campos (SP). A
mistura de controladores distraídos e despreparados com pilotos
displicentes, que desconheciam a
máquina e as regras no Brasil, foi
explosiva. O azar fez o resto, expondo as vísceras do sistema brasileiro.
Todos os lados tendem a despejar
mágoas e autodefesas contra o relatório, mas ele foi produzido dentro
das técnicas internacionais. A culpa
da tragédia não foi do Cenipa, e as
conclusões, infelizmente, não trazem vidas de volta. Mas ajudam a
evitar novas mortes e tanta dor.
elianec@uol.com.br
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