São Paulo, terça-feira, 09 de dezembro de 2008

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ELIANE CANTANHÊDE

Gol 1907

BRASÍLIA - As conclusões finais sobre o choque do jato Legacy com o Boeing da Gol, amanhã, encerram mais de dois anos de um minucioso trabalho de investigação que parte de três bases: as caixas-pretas dos dois aviões, os dados do controle de tráfego aéreo em terra e os depoimentos de sobreviventes.
Na lista dos 30 maiores acidentes aéreos do mundo, só três foram por choque de aeronaves em pleno ar. O Gol 1907 é um deles, com uma característica única: um dos aviões, justamente o pequeno Legacy, escapou com seus seis ocupantes.
O Cenipa, chefiado pelo brigadeiro Kersul Filho, reproduziu, com apoio de técnicos brasileiros, norte-americanos e canadenses, 261 páginas e o que eles chamam de "animação". São duas horas, em três telas, a maior para o mapa e o percurso das duas aeronaves -o Legacy rumo ao norte, e o Boeing no sentido inverso, ambos a 37 mil pés.
Ao lado direito, a tela de cima tem a movimentação do Legacy, e a de baixo, a do Boeing. A qualquer momento, é possível congelar a imagem e confrontá-la com o registro dos computadores do Cindacta. Assim, é possível saber exatamente onde o Legacy estava quando o seu transponder sumiu dos radares, às 19h01min27s3 (hora Zulu, três a mais que a brasileira naquele mês).
Isso foi decisivo para a tragédia, que matou 154 pessoas. Mas ela foi tramada caprichosamente por vários e inacreditáveis erros humanos, desde a decolagem do Legacy de São José dos Campos (SP). A mistura de controladores distraídos e despreparados com pilotos displicentes, que desconheciam a máquina e as regras no Brasil, foi explosiva. O azar fez o resto, expondo as vísceras do sistema brasileiro.
Todos os lados tendem a despejar mágoas e autodefesas contra o relatório, mas ele foi produzido dentro das técnicas internacionais. A culpa da tragédia não foi do Cenipa, e as conclusões, infelizmente, não trazem vidas de volta. Mas ajudam a evitar novas mortes e tanta dor.

elianec@uol.com.br



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