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CARLOS HEITOR CONY
A plebe rude
RIO DE JANEIRO - De certa forma, e uns pelos outros, quase todos
os cronistas e colunistas em atividade na mídia nacional comentaram a recente fala do presidente da
República, que usou uma expressão
classificada de "chula". Resisti até
agora, mas quem há de?
De minha modesta parte, não fiquei escandalizado com a expressão em si, mas confesso que até hoje
fico ruborizado quando leio ou ouço a palavra "chula". Quando a ouvi
pela primeira vez, mais ou menos
aos 12 anos, pensei que se tratava de
um sinônimo técnico ou erudito para "vagina", órgão feminino que eu
conhecia por outros nomes em voga no distante Lins de Vasconcelos,
onde nasci e me criei.
Vai daí, achei o uso da palavra
"chula" mil vezes pior do que a expressão popular usada por Lula.
Além disso, a exposição do cargo
que ocupa o obriga a falar todos os
dias em diversas ocasiões, nem
sempre formais. E a linguagem coloquial nem sempre pode ser evitada. Nunca tivemos um presidente
que falasse tanto em público, muitas vezes desnecessariamente.
Nos 20 anos em que exerceu o poder, Getúlio Vargas pouquíssimo
falou de improviso. Seu sucessor, o
marechal Dutra, era ruim de prosódia e só falava o estritamente necessário, às vezes nem isso
JK falou muito, FHC também.
Somando os dois, não chegam à metade do que Lula já falou -e ainda
lhe restam quase dois anos de mandato. Jânio era econômico e castiço
demais quando falava qualquer coisa -e até mesmo quando não falava. Tinha obsessões pela colocação
dos pronomes.
Em outro cenário político e lingüístico, a expressão usada chocaria a classe média, como chocou alguns comentaristas da mídia. Mas a
plebe rude, que engrossa os 70% de
aprovação ao presidente, teve mais
um motivo para considerar Lula como um dos seus.
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