São Paulo, quinta-feira, 09 de dezembro de 2010

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Primeiros passos

Alunos brasileiros melhoram nota em prova internacional, mas ainda têm desempenho muito inferior ao dos colegas de países desenvolvidos

É notável, segundo os próprios avaliadores, o avanço dos estudantes brasileiros no Pisa, sigla em inglês para Programa Internacional de Avaliação de Alunos. O exame compara o desempenho em matemática, leitura e ciências de jovens de 15 anos, em 65 países.
Entre 2000 e a prova realizada no ano passado, apenas os alunos do Chile e de Luxemburgo tiveram melhora superior à dos brasileiros. Ainda assim, o país aparece nas últimas posições nos rankings de notas das três disciplinas. Ocupa o 53º lugar em ciências e leitura, e o 57º, em matemática.
Como bem comparou o pesquisador Francisco Soares, da Universidade Federal de Minas Gerais, "é como se tivéssemos tirado a cabeça de dentro d'água", apenas para perceber que a praia ainda "está muito longe".
A distância em relação às nações desenvolvidas é maior quando estas são comparadas apenas com o ensino público brasileiro. A competência em leitura nas escolas particulares se assemelha à da Austrália, 9º lugar do ranking. Já a rede pública, sem contar os centros de excelência federais, obteria o 58º lugar, cinco posições abaixo do desempenho do país.
Em matemática, numa escala em que a maior nota, 600 pontos, foi alcançada por alunos chineses, o Brasil obteve 386 pontos -contra 334, em 2000. Esse desempenho significa que o aluno médio brasileiro não consegue ir além da resolução dos problemas mais simples da disciplina. Capacidade semelhante foi aferida nos exames de leitura e ciências -matérias em que a nota dos alunos também cresceu, na década.
Os técnicos do Pisa atribuem a melhora do desempenho ao aumento do gasto com educação -que passou de 4% para 5,2% do PIB em dez anos-, à criação de indicadores de desempenho, e à ajuda federal a municípios, com recursos e auxílio técnico.
Entre erros e acertos, o Brasil parece seguir, no âmbito da educação, passos semelhantes aos que foram dados na área econômica. Desde os anos 90, uma gestão pública mais técnica, avessa a transformações radicais, tem obtido avanços lentos e incrementais.
Um relativo consenso foi alcançado na sociedade sobre a prioridade que deve ser concedida pelos governos à educação. A queda na desigualdade da renda e a continuidade do crescimento dependem de um ensino melhor.
É preciso zelar pela continuidade dos instrumentos de gestão eficientes, mas cumpre acelerar o ritmo de melhora na educação. Investimentos em creches, que diminuem diferenças de desempenho entre as crianças no restante da vida escolar; maiores salários, que atraem melhores profissionais; e treinamento de docentes, para tornar o ensino mais eficaz, são instrumentos a serem utilizados para alcançar esse objetivo.


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